Se importando com os outros

“O Rav Moshe Feinstein, um dos maiores rabinos dos Estados Unidos na geração passada, foi ao Bar-Mitzvá do filho de um antigo aluno da Yeshivá. No final da festa, o aluno, muito lisongeado com a presença do ilustre rabino, insistiu em acompanhá-lo até a porta. Parou um táxi, ajudou o rabino a se acomodar e fechou a porta do táxi.

Quando o táxi já havia andado mais de uma quadra, o Rav Moshe Feinstein pediu para que o taxista parasse o carro e abrisse a porta. O motorista estranhou o pedido, principalmente quando viu pelo espelho que o rabino estava bastante pálido. Quando ele finalmente abriu a porta, viu que a mão do rabino havia ficado presa, e seus dedos estavam bastante roxos. Surpreso, o motorista perguntou ao Rav Moshe Feinstein porque ele não havia gritado imediatamente quando fechou a porta na mão. O rabino explicou:

– Na verdade quem fechou a porta do táxi foi o meu aluno. Se eu tivesse gritado, imagine a vergonha e a tristeza que eu teria causado a ele! Eu preferi aguentar a dor e não causar esse desconforto, principalmente no dia do Bar-Mitzvá do filho dele”

A verdadeira grandeza de uma pessoa pode ser vista na maneira como ela se importa com os outros.
 


O judaísmo não é uma religião proselitista, mas aceita a conversão de pessoas motivadas pelo desejo sincero de cumprir a Torá. A conversão não é apenas um ritual, é uma mudança espiritual, e portanto deve ser feita de maneira séria. Apesar de qualquer pessoa ser bem-vinda ao judaísmo, a Parashá desta semana, Ki Tetze, traz duas exceções, dois povos que nunca serão aceitos dentro do povo judeu: os Amonitas (pessoas do povo de Amon) e os Moabitas (pessoas do povo de Moav). Mas o que eles fizeram de tão grave? A Torá nos relata dois motivos: “Um Amonita e um Moabita não devem entrar na congregação de D'us… pelo fato de que eles não te receberam com pão e água no caminho, quando vocês estavam saindo do Egito, e pelo fato deles terem contratado Bilam filho de Beor, de Petor, Aram Naharaim, para amaldiçoar vocês” (Devarim 23:4,5).

Analizando de forma mais profunda os dois motivos, surge uma pergunta. O primeiro motivo foi o egoísmo e a falta de sensibilidade, enquanto o segundo motivo foi a tentativa de exterminar o povo judeu inteiro através da maldição de Bilam. Por que a Torá precisou ensinar os dois motivos? Afinal, o segundo motivo é tão grave que o primeiro motivo não precisaria nem ter sido mencionado!

Nos ensina o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): “Se não fosse pelo medo das autoridades, um pessoa engoliria seu companheiro vivo”. Mas como é possível o ser humano chegar neste nível de crueldade? Como alguém poderia engolir outra pessoa viva, mesmo escutando seus gritos e pedidos de misericórdia? Explica o Rav Ierucham que o ser humano realmente não é assim tão ruim. Mas o ser humano é tão egoísta, tão centrado nos seus desejos e vontades, que muitas vezes não consegue nem mesmo escutar ou ver os outros. Se escutassem os outros, certamente não poderiam engoli-los vivos. O problema é que não escutamos.

É por isso que a Torá traz como primeiro motivo o fato dos Amonitas e Moabitas não terem trazido pão e água, pois quando alguém vê uma pessoa necessitada e não lhe oferece nem ao menos pão e água, é sinal que ele já não consegue mais enxergar o outro. E somente aquele que não enxerga o próximo pode chegar ao nível desumano de querer exterminar um povo inteiro. O primeiro motivo não é apenas grave, ele é a raiz e a causa do segundo motivo.

Este precioso ensinamento vale também para nossas vidas. Será que nós enxergamos o próximo? Será que realmente nos preocupamos com o que os outros realmente necessitam? Quando damos um real de esmola na rua para um pobre, muitas vezes não queremos resolver o problema do pobre, e sim o nosso próprio problema, pois vendo a necessidade do pobre nos sentimos um pouco desconfortáveis, e dando um real nos sentimos muito melhor. Mesmo que talvez aquele dinheiro não era o que ele necessitava, talvez o que o pobre precisava era de um sorriso, de um consolo, de um incentivo. O Talmud nos ensina que alguém que dá uma esmola a um pobre recebe 6 Brachót (bençãos), enquanto que aquele que dá um sorriso e o consola recebe 11 Brachót. Somos descendentes de Avraham, que dedicou a sua vida a se preocupar com o próximo. Nós temos a herança espiritual, nós temos o potencial, mas que precisa ser trabalhado e desenvolvido.

Falta pouco mais de 2 semanas para Rosh Hashaná, o Dia do Julgamento. D'us nos julga Midá Kenegued Midá (medida por medida). Quanto mais nos importarmos com os outros e sentirmos suas necessidades, mais D'us se importará conosco e terá misericórdia no nosso julgamento.

“SHETICATEV VETECHATEM BESSEFER CHAIM TOVIM” (QUE SEJAMOS INSCRITOS E SELADOS NO LIVRO DA VIDA).

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

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