Parashat Shemot

A GRANDEZA DE D’US

“David era um menino inteligente. Tão inteligente que às vezes fazia perguntas difíceis de serem respondidas. Certa vez ele perguntou: “Pai, qual é o tamanho de D'us?”. O pai não sabia como responder, pois a pergunta era profunda e precisava ser explicada de forma que seu filho, de apenas 7 anos, entendesse. Então, ao olhar para o céu, o pai viu um avião passando e perguntou ao filho: 

– David, qual o tamanho daquele avião?
 
– É um avião bem pequeno, quase não dá para ver – respondeu David, olhando para cima.
 
Pouco tempo depois a família de David foi viajar de avião. No momento do embarque, quando estavam ao lado do avião, o pai perguntou novamente:
 
– David, qual o tamanho desse avião?
 
David arregalou os olhos quando viu como aquele avião era gigantesco. Então seu pai lhe ensinou: 
 
– Filho, você se lembra do avião que vimos voando e parecia tão pequeno? Na verdade, os dois aviões têm exatamente o mesmo tamanho. A diferença é que aquele estava longe, enquanto este está aqui pertinho.
 
– Assim também acontece com D'us – continuou o pai – o tamanho de D'us depende da distância que você estiver Dele. Quanto mais perto de D'us você estiver, maior Ele será na sua vida.”
 
Nos acontecimentos cotidianos, podemos viver como se tudo fosse apenas coincidência e acaso, ou podemos perceber a mão de D'us presente em cada detalhe do que ocorre em nossas vidas.

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Nesta semana iniciamos o segundo livro da Torá, Shemot. E a Parashá da semana, Shemot, começa com o início da escravidão do povo judeu. Como o Faraó não podia escravizar os judeus sem motivo, pois eles eram os descendentes daqueles que haviam salvado o Egito da fome, então ele começou a utilizar uma propaganda antissemita para convencer os egípcios de que os judeus eram perigosos, como está escrito: “E disse (o Faraó) ao seu povo: 'eis que este povo, os Filhos de Israel, são mais numerosos e mais fortes do que nós” (Shemot 1:9). Mas de onde o Faraó tirou este argumento?
 
Explica o Talmud (Sotá 11a) que o Faraó tinha três conselheiros: Bilaam, Iov (Jó) e Itró. Quando o Faraó perguntou a eles sobre como lidar com o “problema judaico”, a reação de cada um deles foi diferente. Bilaam, que era um grande Rashá (malvado), sugeriu perseguir e destruir o povo judeu, dando ao Faraó o argumento de que os judeus eram um perigo para o Egito, e por seu ódio contra o povo judeu foi futuramente morto. Já Iov se calou diante dos decretos que o Faraó fez contra o povo judeu, e por isso foi castigado com terríveis sofrimentos. Itró foi o único que se levantou contra a injustiça dos decretos do Faraó e fugiu, e por isso foi recompensado com descendentes que se tornaram parte do povo judeu.
 
Porém, este ensinamento do Talmud traz com ele um grande questionamento, pois a reação dos três conselheiros do Faraó não foi de acordo com o que esperaríamos. Bilaam é descrito na Torá como um homem orgulhoso, que buscava a todo custo honras e reconhecimento. Ele tinha o “dom” espiritual de amaldiçoar e destruir povos inteiros. O mais lógico seria se Bilaam tivesse dito ao Faraó: “Não se preocupe, eu cuido deste povo. Com minhas maldições eu posso destruí-los sozinho”. Então por que Bilaam sugeriu que o povo judeu fosse escravizado, e ainda procurou argumentos lógicos para isso, ao invés de aproveitar a oportunidade para exaltar seus “dons” diante do Faraó?
 
Também o silêncio de Iov é incompreensível. O Talmud (Baba Batra 15b) descreve Iov como um gigante espiritual, alguém comparado com Avraham Avinu, como está descrito no Tanach: “Um homem íntegro, reto, temente a D'us e que se desviava do mal” (Iov 1:1). Então como este homem, o símbolo da bondade, da misericórdia e do bom coração, escutou o conselho de Bilaam e todos os cruéis decretos feitos pelo Faraó contra inocentes, como os bebês que foram jogados vivos no rio, e ficou quieto?
 
Finalmente Itró, o símbolo da verdade e da justiça, também não se comportou da maneira como era esperado. Apesar de o Talmud dizer que ele se levantou contra os decretos do Faraó e fugiu, há fontes que comprovam que isto não aconteceu imediatamente, somente após muito tempo, depois do nascimento de Moshé. Como pôde este homem da verdade e justiça suportar a mentira e a falta de justiça que o Faraó usou contra o povo judeu?
 
Explica o Rav Yossef Zundel Salanter (Lituânia, 1786 – Israel, 1866) que na verdade a escravidão do povo judeu no Egito já havia sido decretada muito tempo antes, quando D'us fez com Avraham Avinu o “Brit Bein HaBetarim” (pacto entre as partes) e disse para ele: “Saiba com certeza que seus descendentes serão estrangeiros em uma terra que não será deles – e eles os servirão, e eles os oprimirão” (Bereshit 15:13). Portanto, D'us estava simplesmente fazendo com que Seu decreto se cumprisse. Mas por que de uma maneira tão ilógica? Para que fosse percebido aos olhos de todos que somente a Supervisão Divina tem controle sobre o mundo. Ele tirou a sabedoria dos três conselheiros do Faraó, fazendo com que eles agissem contra a sua própria natureza, para demonstrar que não existe sabedoria nem planos que podem ir contra os decretos de D'us. Por isso Ele fez com que todo o início do exílio do povo judeu ocorresse através da Supervisão Divina, e não através de formas naturais.
 
Quando prestamos atenção na salvação do povo judeu, também percebemos que tudo ocorreu de uma maneira acima da natureza e contra qualquer lógica. Fora as pragas e sinais que D'us fez no Egito, que obviamente foram eventos milagrosos, toda a história de Moshé, o salvador do povo judeu, também foi escrita por uma cadeia de eventos acima da natureza. O nascimento de Moshé foi milagroso, pois sua mãe já tinha 130 anos. Como os astrólogos do Faraó haviam previsto o nascimento do salvador do povo judeu, o Faraó decretou que todos os bebês fossem atirados vivos no rio. Para salvar Moshé, seus pais o colocaram em uma cesta revestida de material impermeável e o deixaram no rio. Moshé foi encontrado por Batia, a filha do mesmo Faraó que fez o decreto de jogar os bebês no rio, e ele foi criado dentro do palácio real, sob os cuidados e o sustento do próprio Faraó. E apesar de Batia estar fazendo uma grande transgressão contra a lei egípcia, legislada pelo seu próprio pai, em nenhum momento ela agiu discretamente, como seria o esperado, e ainda chamou o bebê de “Moshé”, que vem do hebraico “Meshitihu”, que significa “retirado das águas”, revelando abertamente seu ato de rebeldia sem nenhum tipo de constrangimento.
 
Além disso, ao ser encontrado ainda bebê por Batia, Moshé foi enviado para que sua própria mãe o amamentasse, garantindo o contato constante com o seu pai, a maior autoridade espiritual daquela geração, e dando a Moshé um pretexto para mais tarde visitar seus pais frequentemente. E quando Moshé cresceu, ele matou um egípcio para proteger um judeu que apanhava, e por sua desobediência às leis egípcias foi condenado à morte pelo Faraó, mas foi salvo da espada afiada por um milagre e conseguiu fugir. Tudo isto ocorreu contra a lógica humana, também para demonstrar que não há ninguém que pode impedir os planos de D'us.
 
No versículo onde está a profecia dita para Avraham sobre a escravidão de seus descendentes, está escrito “Iadoa Tedá”, normalmente traduzido como “saiba com certeza”, mas que literalmente significa “Saiba saiba”. Por que esta repetição? Explica o Midrash que é como se D'us estivesse dizendo: “Saiba que Eu escravizarei o povo judeu, e saiba que Eu os libertarei”, isto é, se refletirmos que todo o início da escravidão foi completamente contra a lógica, entenderemos que foi a mão de D'us que levou à escravidão do povo judeu, e então entenderemos também que somente D'us pode salvar o povo judeu do exílio. Tudo ocorreu sem lógica, tanto a escravidão quanto a salvação, para nos ensinar que a vontade de D'us sempre se cumpre.
 
Estamos atualmente em um exílio difícil, no qual fomos duramente perseguidos e massacrados por séculos. Este exílio foi marcado por um ódio antissemita com motivações ilógicas que dura até os nossos dias. Antigamente éramos perseguidos com o argumento que matávamos crianças não judias para utilizar o sangue na fabricação de Matzót, apesar da Torá explicitamente nos proibir de comer sangue. Atualmente os argumentos antissemitas mudaram, mas continuam ilógicos. Somos atacados por terroristas com mísseis e homens-bomba, mas quando nos defendemos somos acusados de “reação desproporcional”. Quando há atentados em qualquer lugar do mundo, como o que ocorreu nesta semana em Paris, o mundo inteiro se levanta contra o terrorismo, mas quando o atentado é em Israel não é terrorismo, é busca pela liberdade. Enquanto na Síria morrem milhares de pessoas, o único problema que incomoda o mundo são os ataques israelenses contra Gaza. A ONU, que deveria ter sido criada como uma organização imparcial que busca a justiça, mostra-se cada vez mais parcial e injusta. E o Hamas, que abertamente prega o ódio e a destruição de Israel, não é mais considerada uma organização terrorista.
 
Quando não há nenhuma lógica que explica os acontecimentos atuais, podemos enxergar a mão de D'us no nosso exílio. Nossa falha é que esperamos a salvação através de meios naturais. Nos apoiamos na proteção dos Estados Unidos e achamos que a morte de terroristas resolverá nossos problemas. Esquecemos de refletir que o caráter ilógico do exílio é um sinal de que é D'us que está manejando tudo. Nossos sábios ensinam que Moshé tinha muitos nomes, mas de todos os nomes D'us fez questão de chamá-lo apenas de Moshé. Um dos motivos é que, ao mencionar este nome, reconhecemos o caráter ilógico e sobre-humano da salvação do povo judeu, deixando claro que toda salvação do povo judeu não é um processo natural, e sim uma intervenção Divina direta. Este é o nosso consolo neste exílio tão longo e sofrido: da mesma maneira que D'us demonstra que é Ele que nos mantém no exílio, Ele também garantiu que será Ele, pessoalmente, que nos tirará de lá.
 

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