O supremo nível das roupas sacerdotais não se concentra em seu esplendor externo, mas em seu conteúdo interno.
O casaco usado pelo sumo sacerdote estava destinado a expiar o pecado da calúnia (lashon hará). Na bainha do casaco estavam conectados sinos de ouro. Quando o Sumo Sacerdote usava seu casaco e caminhava, os sinos tocavam. Essas vozes lembram sobre a expiação pelos pecados da fala e da voz. Uma segulá especial havia nos sinos, que quando o Cohen chegou ao Santuário, como o ordenado por D'us, este grave pecado de falar difamação foi expiado.
Caso nos perguntem qual roupa deve ser vestida pelo sumo sacerdote para expiar o pecado de lashon hará, provavelmente responderíamos que deveria vestir certa roupa que não faz nenhum som, para que a pessoa relembre que deve ficar em silêncio. O silêncio dessas roupas era um sinal do dever do silêncio.
De acordo com a Torá, a orientação é invertida. Na bainha do casaco, sombreavam sinos que faziam ruídos enquanto o sumo sacerdote andava. A conclusão é que D'us não deseja o silêncio, mas sim Ele deseja vozes, vozes sem nenhuma proibição, vozes sem lashon hará.
Embora o silêncio seja uma arte maravilhosa, no entanto, é preciso usar as virtudes da fala que D'us deu ao homem, para que este possa alcançar grandes metas através desta virtude.
Observando os ensinamentos do Rabino Israel Meir Hacohen, autor do renomado livro “Chafetz Chaim” e sua dedicação em introduzir o quanto são graves os pecados de difamação, fofoca e calúnia, poderíamos entender que ele mesmo era um exemplar se silêncio total. Mas não!!! Aqueles que tiveram o privilégio de estar com ele disseram que ele falava muito. A qualquer momento, ele falava sobre a halachá e ética. Além disso, ele não se absteve de divulgar sua opinião sobre assuntos que estavam na agenda, tanto em geral como em assuntos particulares. E muitas pessoas tiveram proveito de seus frequentes conselhos.
Neste espírito, explicaram os sábios na Mishná (Pirkei Avot 3:13): ” a cerca para a sabedoria é o silêncio”. Entende-se daqui que o silêncio é a proteção para a sabedoria. Porém devemos entender, qual é a sabedoria que o silêncio protege? A resposta é que a sabedoria é a fala, a fala que não navega em “territórios proibidos”.
A fala permitida e a fala proibida, foram simbolizados pelo som omitido pelos sinos quando o sumo sacerdote entrava no santuário dos santuários (kodesh kodashim), lugar onde a Presença Divina estava constantemente. Estando próximo ao Criador junto com o arrependimento perdoou um dos piores pecados, o pecado da calúnia.
A Torá declara o som dos sinos foi necessário não apenas marcar a entrada do Sumo Sacerdote no santuário dos santuários, mas também em sua saída, conforme o escrito na Torá (Shemot 28:35): “e sua voz será ouvida ao entrar no santuário e ao sair…”.
A Torá insinuou que o registro da santidade deve ser deixado mesmo depois de deixar o Templo. O papel do homem é tentar garantir que toda a transcendência espiritual que ele recebe, que não passe como um vento e sim deixe uma marca duradoura.
O poder da fala
Certa vez, uma pessoa espalhou um certo rumor sobre outra pessoa. Mais tarde ele se arrependeu de suas ações e decidiu se dirigir ao Rabino da comunidade para perguntar-lhe como poderia expiar.
Disse o Rabino: “Vá ao supermercado mais próximo e compre um saco cheio de sementes. Pegue o saco que você comprou, e leve-o a um grande campo, jogando todas as sementes ao vento. Na próxima semana volte aqui para contar o que aconteceu “.
O homem seguiu com precisão as instruções do Rabino e voltou a ele uma semana depois para ouvir o que mais ele tinha que fazer.
“Agora”, disse o Rabino, “volte para aquele campo e colete todas as sementes que você espalhou nele “.
“Mas Rabino”, o homem protestou com grande confusão, “os grãos se espalharam por uma ampla área, e nunca encontrarei todos os grãos que espalhei, e estou certo de que alguns deles já plantaram raízes na terra e até começaram a brotar.”
“Exatamente!” O Rabino explicou-lhe: “Agora eu vejo que você realmente entende, quando falamos lashon hará (calúnia) sobre outra pessoa, o efeito de nossas palavras é grande e amplo. Se trata de um prejuízo que que nunca será possível consertá-lo totalmente.
Uma das partes mais difíceis de entender em toda a Torá é encontrada na Parsha Metsorá (Vaikrá 14-15). A parashá trata da questão da lepra. Esta é uma grave doença da pele, que não é, de modo algum, semelhante à lepra conhecida hoje em dia.
A lepra da qual a Torá fala é uma expressão física de uma certa falha na alma, em nosso lado espiritual. Por exemplo, vemos nesta parashá que a irmã de Moshe, Miriam, a profetisa, falou lashon hará sobre seu irmão e imediatamente depois se afligiu com lepra.
Porém devemos entender, qual é a conexão entre a fala negativa – como fofocas sobre outra pessoa – e essa grave doença de pele?
Construir ou destruir
Tentando lembrar a história da criação do mundo, perceberemos que a única ferramenta que D'us usou no tempo da criação foi a fala. A fala tem um poder tremendo, tem a capacidade de construir e criar coisas diferentes e até mesmo o mundo inteiro. Temos a possibilidade de elogiar, incentivar e dar aos nossos amigos e companheiros, a sensação de segurança e importância pessoal. Quando fazemos com que outra pessoa se sinta importante, estamos realmente construindo-o, construindo sua confiança e fé em si mesmo. A importância dá grande significado à vida do homem.
É dito sobre um dos maiores Rabinos americanos da geração anterior, o Rabino Shlomo Freifeld zt “l, que conseguiu fazer uma grande mudança na vida de um dos seus vizinhos, só porque se importava de cumprimentrar-lo todos os dias dizendo “bom dia”.
Mas, por outro lado, devemos lembrar que nossa fala também tem o poder de destruir mundos.
Palavras como “você não vale nada ” podem apagar completamente a auto-imagem da pessoa que as ouve. Como o Rei Salomão diz (Mishlei18:21): “A morte e a vida estão na mão da língua”. O Talmud (Erchin, 15b) explica que a fala negativa é mais severa do que uma espada afiada, pois a espada atinge somente quem está próximo dela, e a língua atinge também quem está distante.
Existem pessoas que sempre dizem o seguinte: “Não aceite, não considere isso, são apenas palavras, elas não tem significado real?” O judaísmo discorda totalmente dessa abordagem!
Além da destruição privada causada por fofocas, todos nós já vimos o tremendo poder do boato desprezível e falso. O rumor tem o poder de destruir as relações entre as pessoas, dividir as famílias e até prejudicar comunidades inteiras.
Assim como a Torá nos proíbe falar lashon hará, também nos proíbe ouvir essa conversa. Quando ouvimos o discurso negativo, “ficamos contaminados pelo veneno” que enche o conteúdo do assunto e, por isso, enfraquece nossa sensibilidade aos outros e na extensão da nossa vulnerabilidade às nossas palavras.
Agora, podemos entender o escrito na Parashat Metzorá. A Torá diz que quando alguém foi diagnosticado com lepra, ele teve que sair dos limites do acampamento e gritar para quem se aproximava dele: “Estou excomungado!” Este castigo é o castigo de “elas por elas”: Se uma pessoa alimenta disputas dentro da sociedade em que vive, ele acabará sofrendo o ostracismo social dentro dessa comunidade. Caso a pessoa tenha causado uma divisão social, estará temporariamente removido da sociedade!
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