Parashat Vayikra

Parashat Vayikrá- introdução ao trabalho dos korbanot

Na época moderna, muitas pessoas ficam horrorizadas ao ler sobre o serviço dos sacrifícios (korbanot). Eles pensam que estas descrições pertencem ao período primitivo na vida das pessoas. Mas, de fato, ao longo das gerações perceberam que o culto sacrificial era uma parte importante da Torá de Israel. Um princípio, que devemos esclarecer bem seu conteúdo.
 
No próprio conceito de “korban-sacrifício” encontra-se uma solução parcial. A palavra korban em hebraico, escreve-se do seguinte modo: קרבן. A raiz desta palavra é composta das letras קרב – cujo significado é estar próximo de D'us. Este conceito é diferente do interpretado nos outros povos. Nos outros povos, o sacrifício significa oferecer (algum presente). Na Torá, o significado da palavra é aproximar de D'us.
 
A existência da idolatria pagã depende do serviço prestado. De acordo com a fé de judaica, não existe “sorte”, tudo depende de D'us, em qualquer aspecto. D'us depende de si mesmo em qualquer aspecto … Ele é somente a revelação de sua graça, para que os seres humanos possam captar e se aproximar Dele. Enquanto nos vários trabalhos pagãos o objeto do sacrifício era apresentar um presente ao ídolo, no judaísmo a direção é completamente contrária. Nós não damos nada ao Criador. Ao oferecer os sacrifícios, agimos profundamente em nossas almas para dentro, para que possamos nos aproximar do Criador de modo integral.
 
Porém a grande pergunta é a seguinte: será que esta é o modo correto de se aproximar de D'us? Ao abater ovelhas e outros animais?
 
Cada pessoa se aproxima de D'us em uma batalha difícil e constante com suas forças conflitantes, que são turbulentas em seu coração. Cada estágio de superação desses instintos e desejos fazendo o bem, justiça, honestidade e a série de mitzvot acrescenta uma camada de integridade e unidade à nossa personalidade. É uma unidade que se baseia na unidade do próprio Criador.
 
Quando uma pessoa transgride um preceito Divino, um pequeno fiapo deste tecido delicado da aproximação a D'us, começa a rasgar. Ao cometer o pecado, a pessoa erra a meta. É um ato feito não de acordo com o nível espiritual da pessoa. Para este objetivo, o sacrifício foi criado. Através do qual podemos ganhar uma nova aproximação.
 
O sacrifício não é um propósito em si mesmo, é um meio de aproximação a D'us, e a participação da pessoa que trouxe o sacrifício, vem ajudá-lo a quebrar seu coração diante de D'us e alcançar a submissão. Quando ele está ao lado de seu sacrifício, e vê o que foi feito ao animal que ele sacrifica, se concentra no pecado cometido. Ele entende que é apropriado que o ato do sacrifício seja feito em seu corpo, mas que, na graça do Criador, o corpo do animal, foi sacrificado.
 
Tudo isso não pode ser alcançado sem uma atitude de submissão total. Conhecer o pecado é um pré-requisito. Quando uma pessoa reconhece seu pecado, e seu coração se rompe com ele porque ele está se rebelando contra D'us, ele tem a oportunidade de expressar em sua expressão externa sua rendição a D'us, ao trazer o sacrifício.
 
Mas quando ele continua afundado em seus desejos e suas abominações, ainda assim ele continua trazendo seus sacrifícios ao Beit Hamikdash, este ato de sacrifício torna-se o descrito por Shlomo Hamelech (Mishlei 21:27) “o sacrifício dos ímpios, a abominação”.
 
No Talmud (Taanit 7b), consta a seguinte passagem: Disse Rabi Ami que as chuvas deixam de cair, somente por causa do pecado de roubo. O Talmud diz que o único modo para cessar a seca, é que as pessoas rezem demasiadamente. O Grão Rabino Ovadia Yosef zts”l trouxe que no livro Gevurat Haari, que esta solução do Talmud, é somente após que a pessoa devolveu o que havia roubado. Pois se não, a reza não serve uma vez que é considerado que está se purificando nas águas do micvê, segurando um réptil morto (que é uma das fontes de impureza). Ou seja, se a pessoa ao trazer seu sacrifício, não deixa de cometer o pecado que pelo qual trouxe este sacrifício, é considerado que está se purificando nas águas do micvê, segurando um réptil morto (que é uma das fontes de impureza).
 
Muitas abominações foram feitas em Jerusalém, mas ao mesmo tempo, juntamente com as ofensas, as pessoas continuaram a chegar ao Templo e sacrificar seus sacrifícios. Este duplo padrão é insuportável aos olhos de D'us, e contra esta situação, saiu o profeta (Yeshaiahu 1:10-11), trazendo as palavras de D'us: “Ouçam as palavras de D'us…Para que vocês trazem seus sacrifícios em abundância…Estou cheio dos sacrifícios de olá de seus…que eu não desejo”. Desta forma, D'us não está interessado nos sacrifícios.
 
Se D'us fosse “beneficiado” com o sacrifício, do mesmo modo que um rei de carne e sangue seria beneficiado ao receber um presente e, como resultado, ele teria perdoado ao transgressor por ter dado o presente, poderia ter havido justificação para trazer um sacrifício, uma vez que a entrega do presente causaria perdão. Porém como D'us não tem proveito dos sacrifícios, o perdão é gerado totalmente por D'us. Caso a pessoa não entenda que o principal ponto do sacrifício é que ele deve se arrepender e abandonar o pecado, D'us não tem nenhum “interesse neste sacrifício”.
 
Quando o transgressor sabe disso e seu coração está quebrado e abalado, quando ele percebe que ele não deu nada ao Criador, mas sim “pôs na prática o pensamento de arrependimento em seu coração”, D'us sozinho e por conta própria, apaga seu pecado.
 
Vamos trazer uma história que ilustra a abordagem correta:
 
Um camponês enviou suas vacas para pastar no pasto e acabaram invadindo os campos do governante da região. Ao ser informado sobre esta invasão, ordenou que fossem confiscadas e levadas para suas jaulas.
 
Os olhos do camponês simplesmente “escureceram”. As vacas eram todo seu tesouro, quase todas as suas posses. O que ele poderia fazer para restaurá-las? Como ele recuperaria suas vacas? Se o governante é um tirano, quem resistirá perante a sua ira?
 
O fazendeiro foi e perguntou o conselho de seus amigos. Eles disseram-lhe: “Na semana passada, aconteceu um incidente semelhante, uma das vacas de certa pessoa, invadiu os campos e foi confiscada … O que esse homem fez? ” Ele trouxe uma cesta cheia de frutas, as deu ao governante. Este aceitou o presente e perdoou-o. O rosto do campnês iluminou-se. Ele preparou uma grande quantidade de maçãs grandes, carregou-as no ombro e subiu ao castelo. Disse ao servo que abriu a porta para ele: “Presente para o governante”. O servo manteve-se de lado e deixou-o passar. O fazendeiro colocou a cesta no tapete e deixou o castelo. Ele se dirigiu às jaulas, e exigiu suas vacas. O encarregado viu que ele estava vindo do castelo, e tinha a plena certeza de que havia resolvido seus assuntos. Ele levou as vacas para sua casa contente e feliz.
 
Depois de um curto tempo, o governante desceu do seu quarto, seu rosto escureceu à vista do cesto de frutas no corredor. “O que é isso?” Ele perguntou a seus serventes.
 
“Então, o camponês saiu aqui e pegou suas vacas confiscadas”, eles responderam.
 
O governante ficou furioso: “com tanta falta de respeito, esta pessoa pode se comportar?!? Apressem-se, peguem o cesto e vão até a casa do camponês, confisquem todos seus animais e joguem nele todas essas maçãs!”
 
Os servos do governante chegaram na casa do feliz camponês, e interromperam sua alegria. Eles confiscaram suas vacas e amarraram-o às toras da cerca para jogar nele suas maçãs.
 
“Parem”, gritou o camponês suplicantemente, “isso é um erro, um erro foi cometido, posso provar isso, me levem ao governante, e tudo será esclarecido.
 
Os servos ficaram envergonhados, levaram-o com eles ao governante. Quando este o viu, ele ficou furioso: “joguem-o no poço da prisão!” Ele ordenou com muita raiva. “Senhor governante, isto não é um comportamento justo. Há uma semana, as vacas de alguém pisotearam em seus campos, e em troca de uma cesta de frutas, você liberou suas vacas, e agora que trouxe frutas, você está confiscando minhas vacas também?!? Onde está a justiça?!”
 
Os servos hesitaram, esperando pela resposta do governante. Ele disse: “Como você não entende?” As vacas foram legalmente confiscadas, invadiram minhas fazendas e causaram danos, e seu amigo entendeu a extensão de sua culpa, prometeu cuidar do rebanho, pediu desculpas pelo dano e declarou que o caso não seria repetido. Mas você, em primeiro lugar, suas vacas invadiram meu campo, você agiu como um proprietário, como se seus campos estivessem em seu domínio e em seu poder. Depois, você veio aqui no meu palácio e deixou a cesta de frutas no tapete, mais uma vez se comportando como proprietário. “Daqui você foi às jaulas e exigiu que as vacas fossem devolvidas. Sua ação foi como de um “proprietário” … Bem, vou mostrar-lhe quem é o verdadeiro proprietário!”
 
A parábola: Os sacrifícios vêm para expressar submissão e subordinação a D'us. Se forem trazidos desta maneira, eles trarão misericórdia, proximidade a D'us e expiarão os pecados. No entanto, se uma pessoa acredita que os sacrifícios lhe dão permissão para retornar ao pecado, pelo contrário, os sacrifícios podem provocar raiva!
 
No interior do homem, há uma luta constante entre as forças do corpo, que se esforçam para cumprir os desejos materiais e as forças da alma, que procuram elevar o homem espiritualmente. Quando uma pessoa peca, ele se rende às forças do corpo. Este processo aumenta a força física dentro do homem, ao mesmo tempo que causa o enfraquecimento do lado espiritual dentro dele.
 
O animal que a pessoa sacrifica no altar simboliza a força material, a força animal no homem.
 
Quando o sacrifício é abatido por causa de D'us, é uma expressão da vontade da pessoa que oferece o sacrifício: enfraquecer o animal que está dentro dele, santificar seu corpo e colocar seu ser físico ao serviço do Criador. A oferta do sacrifício é acompanhada por um processo de pensamento que expressa uma vontade interior de tomar esses passos de proximidade, purificação e abandono da busca do hedonismo. Desta forma, o homem se aproxima de D'us.
 
 
 

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