Parashat Shemini

Pois o justo, ainda que tombe por sete vezes, voltará a se levantar (Mishlei 24:16)

O pôr do sol está próximo. A seriedade do momento é palpável, na sinagoga da cidade de Slonim. A comunidade está prestes a iniciar a última reza do sagrado dia de Yom Kipur, a Tefilat Neilá. No momento de fechar os portões da misericórdia, o Rebe de Slonim fixa seu olhar em duas das pessoas presentes na sinagoga. A aparência destas duas pessoas prova mais do que milhares de testemunhas, que eles não pertencem à paisagem local… eles são cantonistas.
 
A lei russa diz, que o Czar pode pegar crianças com idade entre 10 e 12 anos, recrutando-as para o exército russo, sem pedir autorização das famílias. Eles foram recrutados para unidades militares por 30 anos, sem qualquer capacidade de ´férias ou de liberdade do serviço militar. O primeiro Czar, Nikolai, que subiu ao poder em 1825, era uma pessoa cruel e feroz não só com os cidadãos judeus de seu reinado, mas também com seu povo. Ele um fiel cristão, e usou esta lei principalmente para recrutar crianças judias, para rasgá-las de suas famílias, e para passá-las ao cristianismo num ritual feito no exército. Essas crianças eram chamadas de “cantonistas”. A maioria geral destes cantonistas, esqueceram seu passado judaico ao terminarem o serviço militar; eles saíram para a vida, sem nenhuma ligação sequer com o judaísmo.
 
O Rebe de repente parou sua caminhada, e antes que ele começou a Tefilat Neilá, ele pediu para falar algumas palavras para o público, um evento óbviamente  incomum neste momento.
 
O público ficou apreensivo. E assim ele disse: a mishná no tratado de Kelim, ensina que todos os recipientes são adequados a entrar em estado de impureza, exceto os recipientes feitos de pele de animal marinho, como por exemplo, recipientes feitos de pele de tubarão. Uma exceção desta regra, são os recipientes feitos da pele do cachorro marinho, que sim são aptos a entrar em estado de impureza. Porque? Por que ele é diferente de seus amigos? Escreve o Rabino Ovadia Bartenura (um dos mais renomados comentaristas da Mishná, viveu no século XV na Itália, e faleceu em Jerusalém por volta do anos 1500) que a razão reside no fato de que quando o cão do mar se sente em risco, ele foge para a terra.
 
Se em perigo ele foge para a terra e lá ele se sente seguro, é sinal de que ele pertence a terra.
 
O Rebe sufocou-se de choro e disse: temos dois cantonistas conosco, a aparência deles expressa não serem membros deste povo, porém isto é uma impressão enganosa. Agora estamos no momento de encerramento do dia de Yom Kipur, no momento que cada um de nós pede para D'us que lhe nos decrete uma vida boa, e não…, é um momento delicado e perigoso, é o momento da sentença, o futuro de todos é agora assinado, quem vive e quem morre, que será tranquilo e quem será enlouquecido. Onde eles estão neste momento de perigo? Na sinagoga. Este é o sinal de a qual lugar eles pertencem. Com tais queridos judeus, nós vamos juntos para a “Tefilat Neilá.”
 
Esta história, e outras como esta, ilustram a idéia de que está por trás da Mitzvá de santificar o mês através da presença da lua (Kidush Hachodesh), conforme consta na nossa parashá. Antes da redenção do Egito, antes da praga dos primogênitos e da saída do Egito, D'us ordena a Moshe (Shemot 12:2): “este mês será para vocês, o início do ciclo dos meses “. Isto significa, que o povo de Israel deve calcular os meses de acordo com o ciclo lunar. Como sabemos, a lua -ao contrário do sol-é dinâmica e não constante (de acordo com a luz visível), às vezes a lua parece cheia, às vezes minguante e as vezes não aparece… D'us diz a Moshe que  quando a lua não aparece é sinal que terminou o mês. Quando ela começa a aparecer novamente, quando a lua aparentemente nasce, significa que o mês novo iniciou. As implicações deste ciclo, são todas as festas que são fixadas a partir deste sistema cíclico.
 
A idéia por trás disto é fascinante.
 
D'us transmite uma mensagem maravilhosa a Moshe: mais alguns dias Eu vou redimir o povo de Israel do Egito, para que sejam “Meu povo”. A idéia que está por trás deste preceito de santificação do mês (Kidush Hachodesh) nos demonstra a essência deste povo como uma unidade homogênea por um lado, e sua singularidade por outro lado. O povo de Israel é comparado à lua, às vezes cheio, as vezes minguante e às vezes totalmente oculto. No entanto, qualquer descida tem o intuito de servir como o início de uma subida, pois mesmo que “a subida” está totalmente oculta, depois de certo tempo, ela é descoberta novamente. Assim funciona a vida do povo de Israel periodicamente. Às vezes o povo está no auge de suas forças, às vezes às vezes está em seus pontos de fraqueza, e às vezes está quase totalmente oculto do “mapa humano”. Porém sempre nosso povo “nasce novamente”.
 
No aspecto pessoal, o judaísmo não ignora as fraquezas humanas. Às vezes a pessoa está em estado de declínio antes da subida, e às vezes está no declínio após a subida. D'us não exige perfeccionismo. O verdadeiro tsadic, é aquele que mesmo em situações ultra-difíceis, se levanta, conforme conta em Mishlei (24:16): ” Pois o justo, ainda que tombe por sete vezes, (e mesmo assim) voltará a se levantar. É aquele que supera todos os declínios da vida para que sejam uma alavanca para se levantar. É aquele que supera as tentativas trazidas por D'us.
 
E não só isso, um judeu que parece estar muito longe da verdade interior, mesmo que o exterior é visto como “não relacionado ao criador”, e parece ser apenas externo, mesmo assim, este judeu é como a lua. A lua, tem momentos totalmente ocultos, porém esperando com paciência, perceberemos que ela voltará a iluminar com bastante potência. A pessoa também, mesmo que parece estar em estado de escuridão, de qualquer modo, no fundo no fundo, existe a chama que nunca sai de lá…
 

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