A parashá de Behaalotechá, contém muitos contrastes agudos: pedidos, reclamações, aspirações e queixas. Santidade e desejos materiais. Recompensa pelas mitsvot e penalidade pelas transgressões. Como um todo, esta parashá, simboliza a história dos altos e baixos do povo em geral e de cada pessoa em particular.
Por um lado, Aharon Hacohen recebe as últimas instruções sobre a Menorá e a ordem de como deve ser acesa.
Os Leviim se santificam nos seus devidos serviços.
O povo de Israel sacrificam a oferenda de pêssach no segundo ano após a saída do Egito, e aqueles que não tiveram o mérito de estarem puros para sacrificar esta oferenda, rogaram a Moshe que lhes dissesse qual é a orientação da Torá nesta posição, pois não queriam perder a oportunidade de sacrificar a oferenda junto com o povo. Eles recebem resposta que lhes orienta sacrificar esta oferenda no mês seguinte.
O povo viaja pela primeira vez segundo a ordem das bandeiras, “tudo como manda o figurino”.
Por outro lado, as pessoas reclamam e resmungam, por nada! Em resposta, há fogo ardendo nas pessoas. As baixas camadas do povo tem saudades dos peixes “distribuídos gratuitamente” no Egito, às abóboras, às melancias, ao feno, à cebola e ao alho… e, assim, tentando incitar a multidão de pessoas a reclamarem por desejos materiais sem intuito nenhum, em vez de aproveitar a imensa benção de estar tão perto da presença Divina. E o retoque final da parashá é a chocante história da lepra de Miriam a profetiza, irmã de Moshê que recebeu-a ao falar sobre o afastamento de seu irmão da sua esposa. A vida humana não está marchando em um caminho liso e reto, está cheio de altos e baixos.
Estudando profundamente a parashá, é possível encontrar uma linha em comum entre as partes contraditórias: uma expressão de descontentamento e reclamação. Tanto reclamações particulares, quanto reclamações públicas. Parte das reclamações são aceitáveis e parte não. Cada uma das reclamações recebe o relacionamento adequado à ela.
Insatisfação positiva
A parashá de Behaalotechá, inicia com o seguinte versículo (Bamidbar 8:2): ” Digas a Aharon e fale à ele que ao subir (ou seja, acender) as velas…”. Rashi explica: “Por que a porção das oferendas dos presidentes das tribos (à inauguração) do Mishkan (tabernáculo) está próxima da parashá do acendimento da menorá por Aharon? Pois quando Aharon viu a inauguração dos presidentes das tribos, ficou triste pois nenhum membro de sua tribo participou desta inauguração!!! D’us disse-lhe, que a missão de Aharon era maior e mais importante do que a dos presidentes das tribos. Pois os sacrifícios acontecerão somente quando o Beit Hamikdash estiver erguido e construído, mas as velas sempre iluminarão, e as berachot que lhes concedi à abençoar o povo são eternas.
Por que Aharon ficou triste ao ver os sacrifícios da inauguração? Eis que ele estava cheio de serviço dia e noite com o Mishkan!!!! Será que ele necessitava do incentivo “sua missão é maior e mais importante que a deles? A pergunta é mais profunda caso percebamos que A haron não ficou triste pela informação que os presidentes inauguraram o Mishkan através de sacrifícios e sim pelo fato que viu esta inauguração e não teve participação nela!!!
Nachmânides, pergunta o seguinte: como o acendimento das velas serve como consolação?!?
A princípio, o serviço do ketoret (incenso), é uma consolação muito mais forte do que o acendimento das velas. Pois em diversos, se não em todos os sacrifícios, o incenso é algo imprescindível a tal ponto que pode simplesmente inutilizar o sacrifício e não só isso, a única vez que alguém entra no Kodesh Kodashim (o santuário dos santuários), é o Cohen Gadol (sumo sacerdote) no Yom Kipur, com o ketoret. Então, por que D’us não consolou-o com isso. Além disso, Aharon Hacohen nos shemonat yemei hamiluim (oito dias da inauguração do Mishkan), sacrificou uma quantidade enorme de sacrifícios no Mishkan, muito maior do que os sacrifícios dos presidente. Então, por que ele ficou triste ao presenciar a inauguração e não participar dela?!?
A verdadeira razão da tristeza de Aharon é a seguinte: a ância e a vontade de servir ao Criador integralmente. Pois Aharon sabia que cada indivíduo chega ao mundo para cumprir sua especial missão e seu especial propósito. Esta missão deve ser preenchida perfeitamente e, consequentemente, seu papel deve preencher toda a sua realidade. Quando uma pessoa cumpre seu papel na terra, um tremendo senso de felicidade o subjuga. Por outro lado, quando a pessoa está impossibilitada, por qualquer motivo que seja, de cumprir sua missão, é como se esta pessoa tivesse sendo retirada de sua realidade. Como resultado, uma pessoa pode se sentir fraca e desamparada. Aharon recebeu uma posição específica, para servir ao Criador no Mishkan (tabernáculo). Ele se dedicou a cumprir seu papel e preencheu toda a sua realidade.
Quando ele viu a grande luz que veio ao mundo, pelos sacrifícios de inauguração do Mishkan, ele se auto-perguntou, por que ele não merecia ser digno desta parte do serviço sagrado. Toda a essência de Aharon, era o desejo e a grande vontade de cumprir perfeitamente sua missão sem falhas. Portanto D’us lhe contestou o seguinte: sua missão é maior do que a deles, pois o fato que você não participou de tais sacrifícios, não foi por falha sua ou nível inferior aos presidentes das tribos. Você recebeu uma missão muito mais elevada do que a deles. Sua falta de participação com os presidentes, é oriunda do fato que você está em nível superior a eles.
Caso semelhante, aconteceu por volta de quinhentos anos atrás. Na cidade de Cracóvia, na Polônia, o Rabino Moshe Isserlis, o Ramá, escreveu um livro haláchico de observações sobre o Tur, chamado “Darkei Moshe”, resumindo as leis dos legisladores da halachá desde a época do Talmud, até àqueles dias. Na mesma época de trabalho, foi publicado um trabalho semelhante do Rabi Yossef Karo (autor do Shulchan Aruch). Este trabalho foi chamado de Beit Yossef. O Ramá, percebeu que o trabalho amplo feito por Rabi Yossef Karo, era mais amplo e mais profundo que o dele. Ele simplesmente decidiu que seu livro seria publicado como complemento ao livro de Rabi Yossef Karo, trazendo as observações e costumes ashkenazitas. Deste mesmo modo, foi a publicação do Shulchan Aruch (código de leis práticas), que o Ramá publicou sua parte como complemento ao Shulchan Aruch, trazendo os costumes ashkenazitas. Deste modo, o livro foi publicado em conjunto e foi aceito em todas as camadas e níveis do povo.
O Ramá, não ficou chateado, tentando interferir na divulgação dos livros de Rabi Yossef Karo. Ele ficou triste por talvez perceber que não cumpriria sua função no mundo. Ao controlar seus sentimentos, ele chegou a conclusão que sua verdadeira missão seria publicar os livros sincronizado com Rabi Yossef Karo, e não separadamente.
Sobre Pessach Sheni, foi dito (Bamidbar 9:6): “E haviam pessoas que estavam impuras pela alma de outras pessoas (se ocupavam com o corpo de pessoas falecidas) e não poderiam oferecer o sacrifício de Pessach naquele dia, e chegaram perante Moshe e Aharon naquele mesmo dia. Disseram aquelas pessoas a eles: Somos impuros pela alma de outras pessoas.
Por que perderemos a possibilidade de sacrificar o sacrifício de Pessach junto com todo o povo?”
Consta no Talmud (Sucá 25b):Quem eram essas pessoas? Disse Rabi Akiva: eram Elitsafan e Uziel que se ocuparam com os corpos de Nadav e Avihu, filhos de Aharon que faleceram no Mishkan. Mesmo estando isentos da participação do sacrifício de Pessach, foi doloroso para eles, não participarem desta mitsvá. Eles estiveram impróprios por ordem Divina de se ocupar com tais corpos, portanto, Moshe tinha certeza de que havia uma resposta satisfatória, como realmente foi. Por esta situação, foi ordenado sobre o Pessach Sheni (oferecer o sacrifício de Pessach exatamente um mês depois).
Outra passagem, foi quando o povo reclamou pela falta de satisfação por não receberem todos seus desejos materiais. Moshe disse a D’us que ele não pariu o povo para que cuide dele como se fosse seu filho biológico. Portanto ele disse, que não poderia conduzir o povo sozinho. Em resposta, D’us concorda com ele, ao ordená-o a convocar setenta anciãos que receberiam sobre si o jugo de conduzir o povo, através que recebessem sobre eles a inspiração do espírito Divino.
A convocação foi do modo seguinte: de cada tribo seriam escolhidas seis pessoas, que no total seriam setenta e duas pessoas. Seria feito um sorteio para que duas pessoas não participarem deste comitê de conduta do povo. As pessoas que foram retiradas foram Eldad e Meidad. Porém após este sorteio, Gershom o filho de Moshe, viu que Eldad e Meidad, receberam a inspiração da presença Divina. Ele teve o receio, que isto poderia ser um insulto à honra de seu pai. Porém Moshe diz o seguinte: você está preocupado com minha honra, tomara que todo o povo integralmente recebesse a inspiração da presença Divina.
Insatisfação negativa
Por outro lado, encontramos a insatisfação negativa. Na Torá (Bamidbar 11:1) consta que o “povo” reclamou muito mal para D’us. D’us ao escutar isso, ficou furioso com eles e os queimou. O fogo pegou nas pontas do acampamento. A Torá, não explica qual foi a reclamação “do povo” naquele momento. Rabbi Ovadia Seforno explica, baseando-se em Rashi, que toda vez que está escrito na Torá “o povo”, a intenção é em relação ao erev rav. Este grupo, são os gentios que se agregaram ao povo de Israel no momento da saída do Egito. Eles, nesta reclamação procuraram não somente se afastar, mas também afastar o Benei Israel da crença no Eterno. Era difícil para eles, a grande e enorme aproximação de D’us, ao ver e conviver com todos os milagres que aconteciam no deserto. Eles simplesmente procuram “impurificar” o ambiente homogêneo que estava no povo. Isto foi a base para as outras reclamações que houveram durante o deserto.
Em outras palavras, quando uma pessoa reclama por não participar de qualquer ação feita em conjunto por certas pessoas, caso ele não tente estragar o trabalho dos outros e sim tenta fazer o máximo para que ele próprio possa participar, esta é uma reclamação desejável. Mas quando as pessoas queixam-se a tal ponto que se afastam da proximidade Divina, e também fazem acrescentando absurdas reclamações, é uma insatisfação totalmente. Aqui eles são punidos imediatamente, de modo a não criar reclamação que pode mau influenciar ao povo.
Por outro lado, Miriam revelou uma “preocupação” incorreta, ao reclamar que como Moshe pode ter se afastado de sua esposa pois D’us se comunicou com ele, eis que com Miriam e Aharon, D’us também conversou. D’us responde à ela, que Moshe está num nível espiritual muito mais elevado que o dela, por isso ele teve que se afastar de sua esposa.
Portanto, a reclamação de Miriam foi injustificada.
Conclusão: o homem é obrigado a estar no topo da perfeição. Revelar preocupação sobre sua situação e sobre a situação de seus amigos e vizinhos. Porém deve ter a delicadeza de saber quando expressar e quando não, sua insatisfação pela situação que ao seu ver é incorreta.