Ontem, em uma loja em NY, pedi um pequeno copo de suco de laranja. O vendedor me deu um copo enorme cheio de suco. “Eu pedi um pequeno”, disse para corrigir o erro, mas ele apontou para dois copos maiores que estavam lá: “O que você recebeu é o pequeno. Há também tamanho médio e esse é o maior!” Eu ainda não me acostumei com o fato de que tudo aqui é enorme.
O verdadeiro desafio que o Sefer Dvarim (Livro de Deuteronômio) nos adverte é viver em uma sociedade de abundância, uma sociedade em que há tudo, e muito grande. Repetidas vezes, Moisés adverte não contra a falta, mas com a riqueza, não com o perigo da fome, mas com o perigo da saciedade. De fato, depois de anos vagando pelo deserto, o Sefer Dvarim nos prepara para o desafio de nossos tempos: vida em uma sociedade que tem – e não em uma sociedade que não tem. Nossos ancestrais tiveram que lidar com a escravidão, fome, perseguições e expulsões, mas o que faremos mais tarde, quando entrarmos na boa Terra, uma Terra com leite e mel? Não é por nada que a Parasha enfatiza várias vezes: lembre-se, não se esqueça, cuidado para não esquecer, não ganhe peso e chute a tradição que foi santificada com lágrimas e sangue. É verdade que todas as gerações antes de nós demonstraram devoção, aderência e entusiasmo em condições difíceis. Mas não devemos subestimar nosso complexo desafio: é preciso verdadeira devoção para poder continuar em seu caminho – também sob condições fáceis e confortáveis.
