Rabino Arie Rojtenbarg

A Torá Oral é paralela à Tora Escrita ou uma extensão para um profundo entendimento

O Rambam em sua introdução sobre o Mishnê Torá, escreve o seguinte: Todas as mitsvot que foram outorgadas a Moshe Rabenu no Har Sinai, foram outorgadas com todas suas explicações e esclarecimentos, como está escrito na Torá (Shemot 24:12): “… e estou te outorgando as tábuas de pedra, e a Torá, e a Mitsvá, que escrevi para ensiná-los”. No Talmud (Brachot 5a), consta o seguinte sobre este passuk: tábuas da pedra- dez mandamentos. Torá- Torá escrita. Mitsvá- mishnayot. Que escrevi – neviim e ketuvim. Para ensiná-los- guemará.

Isto nos ensina, que não somente a Torá escrita como também a Torá oral, foi outorgada a Moshe Rabeinu no Har Sinai. No Talmud Yerushalmi (?) consta que mesmo o entendimento de estudantes no decorrer de todas as gerações, também foi outorgado a Moshe Rabeinu no Har Sinai.

Qual é a necessidade da Torá Oral? Será que a Torá Escrita precisa de complemento?

Maharal (Tiferet Israel capítulo 68):

A Torá outorgada por D’us ao povo de Israel, contém a Torá escrita, que é a Torá que está perante a nós, e a Torá oral que contém a explicação das mitsvot. Pois na escrita foi outorgada somente a mitsvá e oralmente foi outorgada a explicação da mitsvá.

Deve ser questionado: por que não foi tudo outorgado na Torá escrita? E mais ainda, consta no Talmud (Gittin 60b) que ensinou Rabi Yehudá bar Nachman, o tradutor de Reish Lakish: uma vez está escrito (Shemot 34:27): “escreva para ti estas coisas” e outra vez está escrito (ibid): ” pois sobre estas coisas (vocais)”. Como pode ser que uma vez a Torá descreve a si mesma como coisas escritas e como coisas vocais?! Responde o Tana dbei Rabi Yishmael…, que estas coisas (a Torá escrita), você pode escrever, mas não as halachot (a Torá oral)

O estudo oral, ajuda a memorizar o assunto estudado

Será que você te enciclopédia? Quando foi a última vez que você pesquisou nela? A maioria das pessoas, não toca em sua enciclopédia durante muito tempo. De modo geral os momentos nos quais as pessoas tocam em suas enciclopédias, é quando necessitam pesquisar determinado assunto. No resto do tempo, os livros descansam (quase eternamente) na estante

Esta não foi a verdadeira intenção Divina ao nos outorgar a Torá Oral. O Judaísmo, não é um compilado de fontes de informações, que foi preparado para que na maioria do tempo descanse na estante.

Devemos viver a Torá e absorvê-la em nossa alma. Portanto devemos compreendê-la dos pés à cabeça e da cabeça aos pés. Por este motivo, D’us nos outorgou a Torá Escrita e a Torá Oral. Os princípios básicos, estão escritos. Porém o resto deve ser memorizado e transmitido, para que a pessoa tenha os ensinamentos guardados e preservados em sua memória, para que transmita-os à próxima geração. Ou seja, cada um deve ter seu método de memorizá-la para que possa saber e entender a Torá de todos os aspectos.

Método eficaz de transmissão da Torá

Além de que o estudo oral ajuda a memorizar, este tipo de estudo deve ser transmitido diretamente do transmissor a seu discípulo ou do pai diretamente a seu filho. Deste modo, a Torá estará sempre na “ponta da língua de cada um, de tal modo, que as pessoa conversaram sobre ele e esclareceram-a.

Este assunto é fortificado pelo Talmud (Eruvin 54b):

Assim era a transmissão da Torá ao povo de Israel. Primeiramente entrava Aharon Hacohen, e lhe ensinava uma única vez o que havia recebido de D’us. Em seguida, Aharon sentava-se ao lado direito de Moshe. Em seguida entravam os filhos de Aharon, Elazar e Itamar. Moshe lhes ensinava do mesmo modo que ensinou a Aharon. Após este ensinamento, um deles sentava-se à esquerda de Moshe e o outro à direita de Aharon; em seguida, entravam os setenta anciãos que aprendiam a Torá, do mesmo modo que Moshe ensinou a Aharon e seus filhos. E em seguida entravam o resto do povo.

Isto significa que Aharon escutou o mesmo ensinamento quatro vezes, seus flhos três vezes, os anciões escutaram duas vezes, e o resto do povo escutou somente uma única vez. Cada um dos ouvintes de Moshe, ensinou aos outros, de modo que todos escutaram os mesmos ensinamentos, quatro vezes.

Disse Rabi Eliezer: a pessoa é obrigada a ensinar a seu discípulo, quatro vezes. Isto é aprendido por kal vachomer (dedução lógica- uma das treze virtudes de interpretação da Torá)- se Aharon escutou de Moshe quatro vezes mesmo que  Moshe aprendeu diretamente de D’us, qualquer outra pessoa comum, não seria óbvio que deveria estudar e ensinar pelo menos quatro vezes?!?

Rabi Akiva disse: de onde sabemos que a pessoa deve ensinar a seu discípulo até que este haja entendido? Este ensinamento consta na Torá (Devarim 31:19):” velamdá et benei Yisrael, simá befihem– e ensine ao povo de Yisrael, e coloque em sua boca”. Ou seja, o ensinamento deve estar claro e arrumado na memória dos discípulo.

E de onde aprendemos que mestre deve ensinar todos os lados e explicações e razões aos discípulos? Conforme consta na Torá (Shemot 21:1): ” veele hamishpatim asher tassim lifneihem– e estas são as leis que colocarás perante a eles”, como uma mesa posta perante a eles.

Compilação da Torá Oral-Mishná

O motivo pelo qual Rabi Yehudá Hanassi, compilou a Mishná

Rabi Yehudá Hanassi, ou como mais comumente chamado Rabeinu Hakadosh, compilou a Mishná. Desde os dias de Moshe e até os dias de Rabeinu Hakadosh, não havia nada compilado para ensinar a Torá Oral em público, a transmissão era feita da seguinte forma: o chefe do Beit Din ou o profeta que vivia naquela época, escrevia tópicos do que havia recebido de seus mestres, e assim repassava oralmente ao público.

E assim, cada um escrevia os tópicos do que conseguia entender e aprender de seus mestres, tanto dos ensinamentos e aprendizagens das leis que havia ouvido, e dos assuntos que foram entendidos através das treze virtudes de interpretação da Torá.

E sempre foi assim, até que Rabeinu Hakadosh, juntou todos os ensinamentos, leis e explicações recebidos oralmente até sua época, e compilou a Mishná. A Mishná foi ensinada em público em todos os lugares, e todos a escreveram, para que não seja esquecida da memória do povo de Israel.

E por que Rabeinu Hakadosh fez isso? Porque ele viu que os estudantes estavam diminuindo e os problemas estavam se regenerando e o Reinado Romano estava se espalhando pelo mundo e se fortalecendo, quando o povo de Israel estava diminuindo cada vez mais sua força e sua influência. Portanto, ele compilou uma obra unânime para que todos a aprendam e ensinem às próximas gerações, com o intuito que a Torá não seja esquecida da memória do povo de Israel. Durante toda sua vida, Rabeinu Hakadosh e seu Beit Din, ensinaram a Torá ao povo para que esta não seja esquecida.

Torá Temimá (introdução ao capítulo 1)

“…portanto se levantaram os sábios posteriores a Rabeinu Hakadosh, e compilaram diversas obras como safra, sifri, tossefta, mechilta, etc…, com intuito de explicar os princípios e os assuntos da mishná. Os dois Talmud (Bavli e Yerushalmi), também foram compilados para explicar as razões e motivos do escrito na Mishná, os métodos de estudo, e a relação entre a Torá escrita e a Torá oral… Até que no final da compilação do Talmud, a Torá escrita foi integralmente pesquisada e esclarecida…a tal ponto, que a Torá escrita é comparada à um tronco de uma árvore com raízes fortes e espalhadas em todas as direções, e a Torá Oral, é comparada aos galhos e à imensa copa desta árvore…”

Rabi Tsadok Hacohen de Lublin

“…a proibição original de escrever a Torá oral, foi pela razão de que ao escrevê-la, a “parte viva” da pessoa que a transmite, é excluída quando as palavras são postas sobre o papel. A pessoa que alcança o entendimento das palavras, alcança somente a camada material das palavras sem a “alma-viva” daquele que transmite-as. Porém, para que não haja esquecimento da Torá, foi permitida a escrita da Torá Oral para que pelo menos saibamos qual é a “camada material” destes ensinamentos…, mesmo que a vontade Divina foi de que a Torá oral fosse transmitida vocalmente e não  por escrito, foi decidido escrevê-la, para que não seja esquecida…”

Sefer Haikarim (Maamar 3:23)

“…e já que pode haver divergência entre os sábios em assuntos que foram extraídos das treze virtudes de interpretação da Torá (veja adiante), a sabedoria Divina concordou que para que a Torá seja interpretada e entendida do modo mais perfeito possível, diminuindo ao máximo possível as discussões e divergências, que a decisão da explicação prevalecente esteja nas mãos da maioria dos sábios de cada época e época, conforme está escrito na Torá (Shemot 23:2): ” acharei rabim lehatot-…mas inclina-te à maioria…“. A Torá nos ordenou também que não nos desviemos das orientações de nossos sábios, conforme o escrito na Torá (Devarim 17:11): “… não te desviarás da sentença que te anunciarem, nem à direita e nem à esquerda“. Nossos sábios explicam, que mesmo que o sábio que te orienta lhe diga que a esquerda é a direita e a direita é a esquerda, siga a orientação dos sábios.

A intenção disto é que cada pessoa, tem a tendência de dar importañcia e respaldo a seus pensamentos e suas lógicas, mais do que a dos outros. Esta tendência pode chegar a tal ponto, que mesmo pessoas leigas sem nenhum conhecimento em determinados assuntos, se considerem como os mais peritos no assunto, ignorando e menosprezando a opinião daqueles que realmente são peritos e que dão o tom. Portanto disse o passuk  que mesmo que a pessoa veja que os sábios opinam ao contrário de sua lógica, dizendo que a esquerda é direita e a direita é esquerda, mesmo assim cada um deve seguir a opinião dos sábios. E mesmo que a pessoa ou o sábio que discorda seja mais sábio do que a maioria dos sábios que decidiram ao contrário de sua opinião, mesmo assim, a opinião que prevalece é a da maioria.

E esta é a explicação do Talmud (Baba Metsia 59b), sobre o assunto “tanuró shel achnai (forno da cobra)”. O assunto tratado é o seguinte: se trata de um forno feito diversas rodelas. Este forno parece com uma cobra que aparentemente é parecida com a estrutura externa deste forno. Entre as rodelas, é posto areia. Entre os diversos assuntos haláchicos sobre este forno, está o assunto da pureza e da impureza. Este forno era composto de diversas rodelas de porcelana. Quando este forno foi dividido em rodelas e novamente formado em forno através que foi posta areia entre as rodelas e depois esquentadas em forno maior, como quaisquer outros utensílios de porcelana, os sábios divergem sobre o estado de pureza deste forno.

Rabi Eliezer purifica-o, porém a maioria dos Chachamim (representados por Rabi Yehoshua), impurificam-o. Segundo a regra exibida anteriormente, a halachá segue a opinião de Chachamim. Porém o que a guemará nos transmite no decorrer deste assunto, é uma coisa que nos ensinará algo muito profundo, sobre a interpretação e o seguimento da interpretação de chachamim sobre a Torá.

Disse Rabi Eliezer: se a halachá é conforme minha opinião, que esta árvore de alfarroba, se mova do lugar. E realmente, tal árvore se moveu 50 metros de distância

Respondeu Rabi Yehoshua: Não é possível trazer prova de uma árvore de alfarroba

Disse Rabi Eliezer: Se a halachá segue minha opinião, a correnteza da água provará isso. E realmente a correnteza da água foi para o lado oposto.

Respondeu Rabi Yehoshua: Não é possível trazer prova da correnteza da água

Disse Rabi Eliezer: Se a halachá segue minha opinião, as paredes do Beit Midrash provarão isso. As paredes começaram a se inclinar.

Respondeu Rabi Yehoshua: se os Talmidei Chachamim discutem entre si, sobre um assunto de halachá, por que vocês (paredes) se intrometem

As paredes não voltaram para trás por respeito a Rabi Eliezer, e não caíram mais por respeito a Rabi Yehoshua.

Disse Rabi Eliezer: Se a halachá segue minha opinião, que haja uma prova celestial. Imediatamente saiu uma voz do céu dizendo “por que vocês discutem com Rabi Eliezer, uma vez que a halachá sempre segue sua opinião.

Respondeu Rabi Yehoshua: a Torá não está nos céus, conforme consta na Torá (Devarim 30:10-14).isto significa, que após a outorga da Torá, não são levados em conta os sinais celestiais fixando a opinião que prevalece, pois a própria Torá deu o poder aos seres-humanos que fixem a halachá, segundo a opinião da maioria dos chachamim.

A conclusão do Talmud neste assunto, foi de prevalecer a opinião de Rabi Yehoshua.

Mesmo que Rabi Eliezer era mais sábio do que todos os outros chachamim juntos a tal ponto que a voz celestial afirmou isso, de qualquer modo a halachá é fixada conforme a maioria dos chachamim.

Caso em determinada circunstância, a halachá seja fixada pela opinião de somente um chacham e não pela opinião da maioria, haverão diversas e imensas divergências, pois cada um opinará que sua opinião é a que prevalece, e portanto, assim se comporta em assuntos de halachá. Isso, com certeza, trará a ruína da Torá de modo geral, sendo uma anarquia, quando cada um faz o que quer. Portanto, é muito importante que não nos desviemos desta regra, de seguir a maioria. Porém, não qualquer tipo de maioria, pois os leigos (por serem maioria) pode decidir em assuntos que contradizem totalmente os princípios e bases da Torá. A maioria citada, é a maioria dos chachamim

Uma das provas mais nítidas que a Torá Escrita e a Torá Oral, são paralelas uma à outra

Uma das provas mais nítidas que a Torá Oral está sempre paralela à Torá Escrita, e que a Torá recebida por Moshe é a mesma que temos hoje em dia, é o fato de que a Torá foi outorgada sem nenhuma pontuação. E mesmo assim durante centenas e milhares de anos, a Torá sempre foi, é e sempre será lida com a mesma pontuação, exceto nos casos da diferença de pronúncia devido aos diferentes lugares do exílio do povo.

Introdução do Rambam à explicação das mishnayot

De que modo Moshe transmitiu a Torá ao povo

Saiba, que toda mitsvá que D’us outorgou a Moshe, continha todas as explicações. Ou seja, D’us lhe ensinava a mitsvá, e lhe explicava tudo o que era incluído em tal mitsvá.

Assim era a transmissão da Torá ao povo de Israel, conforme consta no Talmud (Eruvin 54b): 

Primeiramente entrava Aharon Hacohen, e lhe ensinava uma única vez o que havia recebido de D’us. Em seguida, Aharon sentava-se ao lado direito de Moshe. Em seguida entravam os filhos de Aharon, Elazar e Itamar. Moshe lhes ensinava do mesmo modo que ensinou a Aharon.

Após este ensinamento, um deles sentava-se à esquerda de Moshe e o outro à direita de Aharon; em seguida, entravam os setenta anciãos que aprendiam a Torá, do mesmo modo que Moshe ensinou a Aharon e seus filhos. E em seguida entravam o resto do povo.

Isto significa que Aharon escutou o mesmo ensinamento quatro vezes, seus flhos três vezes, os anciões escutaram duas vezes, e o resto do povo escutou somente uma única vez. Cada um dos ouvintes de Moshe, ensinou aos outros, de modo que todos escutaram os mesmos ensinamentos, quatro vezes.

Após estes ensinamentos, o povo transmitiam os ensinamentos uns aos outros, e escreviam os pessukim em meguilot (pergaminhos enrolados). As explicações de tais pessukim eram transmitidos oralmente, sem que sejam escritos. O método de ensino era tal, que eles leiam os pessukim, para que sejam bem compreendidos, e as explicações memorizavam e sabiam-as “ao pé da letra”.

No início da Parashat Behar (Vaikrá 25), a Torá nos ensina sobre  a Mitsvá de Shemitá. De sete em sete anos, a terra de Israel deve cessar a produção agrícola durante um ano. Esta mitsvá é cumprida somente em Israel. Pergunta Rashi, por qual motivo essa mitsvá foi dita justamente aos pés do Monte Sinai, uma vez que esta mitsvá de nenhuma maneira é cumprida neste local? 

Responde Rashi, que do mesmo modo que a mitsvá de shemitá nos  foi ensinada no Monte Sinai com todos seus detalhes e sub-detalhes, assim também nos foram ensinadas e transmitidas, todos os preceitos e sub-preceitos e todos os mínimos detalhes de todas as mitsvót, no Monte Sinai.

Por exemplo, D’us disse a Moshe em relação à mitsvá de sucá, as seguintes regras:

1) a duração desta mitsvá é durante sete dias.

2) é uma mitsvá obrigatória somente aos homens, por ser determinada e limitada pelo tempo.

3) não é obrigatória aos enfermos e àqueles que estão de passagem nos caminhos.

4) o schach (teto) da sucá deve ser feito somente de materiais derivados da terra e mesmo assim não deve ser feito de lã ou de linho e nem de utensílios feitos de materiais derivados da terra.

5) o espaço desde o teto da sucá até o chão deve ser no mínimo de dez tefachim (1 metro) e a área da sucá deve ser no mínimo de sete tefachim por sete tefachim (70cm por 70cm para que caiba na sucá, a cabeça da pessoa, ma maioria de seu corpo e uma mesa) .

Do mesmo modo que esta mitsvá foi recebida com suas explicações e comentários como outorgadas diretamente de D’us, do mesmo modo todas as seiscentas e treze mitsvót, foram transmitidas em pergaminhos, todos os comentários, detalhes e explicações, foram transmitidos verbalmente dos mestres a seus discípulos.

Ao chegarem nos final dos quarenta anos de caminhada pelo deserto no início do mês de Shevat, Moshe juntou todo o povo dizendo-lhes que seus dias na terra estavam chegando ao fim, e que todo aquele que havia escutado dele alguma lei ou explicação e a havia esquecido ou que esteja duvidoso em relação a tal explicação, que venha até Moshe, para que esclarecimento. Todo este esclarecimento de dúvidas durou entre o início do mês de Shevat até o dia sete de Adar, o dia de falecimento de Moshe.

Antes de seu falecimento, Moshe escreveu treze livros da Torá, desde a Parashat Bereshit até o final da Parashá Vezot Haberachá. Doze livros da Torá, para cada uma das doze tribos, e o décimo terceiro livro, para a tribo de Levi…

Fé e segurança nas palavras de chachamim

Consta na Torá (Shemot 2:1): “e foi um homem da tribo de levi e pegou (casou-se) com a filha de levi”

Consta nos Talmud (Sotá 12) em nome de Rav Yehuda Bar Zivna, que se trata de Amram o pai de Moshê, Aharon e Miriam. Amram, era o líder da geração. Após o decreto do faraó de que todos os nenens machos récem-nascidos fossem jogados ao Nilo, ele disse que o esforço de trazer crianças ao mundo poderia ser em vão, portanto decidiu divorciar sua esposa Yocheved. Em seguida todos os menbros do povo fizeram o mesmo ato com suas esposas.

Lhe disse Miriam: pai, seu decreto é mais severo do que o decreto do faraó. Pois faraó decretou somente sobre os machos e você decreta também sobre as fêmeas, faraó decretou somente neste mundo, e você decreta também no mundo vindouro (pois os nascidos que faleceram, viverão no mundo vindouro, e os que não nascem, não). Faraó o perverso, é dúvida se seus decretos realmente acontecerão, mas seus decretos, com certeza acontecerão. Logo em seguida, todos os maridos voltaram para suas esposas.

Pergunta

A pergunta que obviamente deve ser feita é a seguinte: o primeiro argumento de Miriam foi de que a instrução dada por seu pai estava errada, pois deste modo estava sendo mais severo do que o próprio faraó. Então que lugar há para o próximo argumento que o decreto de faraó é dúvida se acontecerá e o teu decreto com certeza acontecerá. Pelo contrário, caso este decreto de Amram esteja errado, com certeza ele não prevalecerá?

Resposta

Aprendemos desta passagem, que a fé e confiança nas palavras de chachamim, deve ser tão forte, que mesmo que nos pareça que o Rabino esteja errado, devemos confiar em sua visão, pois uma das virtudes do chacham, é aquele que vê o que vai nascer de tal ato ou tal circunstância, conforme consta na Torá (?): ” não se desvie da coisa (que lhes será dita pelo chacham, mesmo lhe dizendo que a) esquerda (é direita) e (que a) direita (é esquerda).

O chacham, é conhecido como aquele vê o que vai nascer de determinados atos e acontecimentos. O parto, é composto de dores e dificuldades, porém em seguida será uma fonte de imensa alegria. O chacham exige programas e cálculos que aparentemente são inaceitáveis e que muitas vezes parece ser melhor deixá-los de lado, como o início do parto que inicia com contrações e imensas dores. Porém a sabedoria do chacham é de ver o que acontecerá depois de imensas dores, momento no qual todos estão super felizes e contentes pela nova alma vinda ao mundo.

Para isso é exigido um enorme grau de sabedoria para ver o início da luz, durante o momento de escuridão.

Assim escreve o rambam: saiba, que do mesmo modo que o cego se apoia no esperto seguindo seus caminhos, sabendo que ele não tem o dom da visão e que segue a trilha do esperto, assim também o doente segue as orientações do médico, pois não entende de medicina, assim também o povo deve confiar nas orientações daqueles que tem a verdadeira visão e os verdadeiros olhos, pois os sábios em suas orientações lhes ensinam em sua profunda visão o que é certo e o que é errado.

O Rabino Eliahu Dessler em seu renomado livro Michtav me eliahu, trouxe as palavras do Rambam e acrescentou o seguinte: não somente podemos usufruir da ampla visão de nossos sábios, podemos também aprender em suas orientações, suas formas de raciocínio, e através disso endireitar nossos caminhos. Portanto, os grandes sábios de cada geração, já que receberam dos sábios das gerações anteriores e assim foi, aprenderam de seus caminhos e suas condutas, para que sejam corretos “conforme o figurino”. Este conselho é válido a tal ponto, que mesmo em coisas que não estão explícitas nas fontes e nos livros sagrados, como também conselhos em coisas comuns, são considerados que como estivessem saído diretamente de D’us.

Tudo isso graças ao ponto ensinado pelo Rav Dessler, que ao seguir as palavras de chachamim, além de seguir uma visão ampla, também aprendemos e captamos para nós, este método de raciocínio.

Muitas vezes, perante ao chacham são expostas perguntas com informações parciais, que em muitos casos, a falta de detalhes faz diferença na resposta, causando que a resposta para tal caso saia deturpada, e não por falta de lógica e pensamento certo do chacham.

Existe uma tefilá antes do estudo de torá que está impressa em alguma das edições do Talmud que a tradução dela é a seguinte: que seja a vontade perante a Ti….que não aconteça nenhum obstáculo saído de mim e que não me equivoque em assuntos de halachá sendo que meus amigos não fiquem contentes com meu erro. E que não diga sobre o impuro que é puro e sobre o puro que é impuro. Que não diga sobre o permitido que é proibido e sobre o proibido que é permitido.

Perguntou um dos discípulos do Chatam Sofer:  o pedido que não aconteça nenhum obstáculo e que não me equivoque em assuntos de halachá, já inclui tudo. Por que então na tefilá está detalhado sobre puro e impuro, proibido e permitido?

Respondeu o discípulo do Chatam Sofer: certas vezes o chacham é questionado sobre a cashrut de certo animal, casherizando-o. Porém pode haver algum motivo oculto que não chegou em sua informação que caso soubesse invalidaria o animal ao consumo. O que pedimos na tefilá, é que mesmo que podem haver certos motivos que a decisão haláchica mude por falta de informação que não chegou a nós, que D’us nos dê ajuda celestial (siatá dishmaia) para que nossa decisão seja completamente certa, mesmo sem saber todas as informações

Com este entendimento devemos pôr na prática que quando vamos nos orientar com um chacham ou quando vamos lhe perguntar algo sobre a halachá, por um lado devemos fazer o máximo de esforço possível para trazer todos os detalhes sobre o assunto que perguntamos, que possam influenciar ou não na resposta. Porém por outro lado devemos estar plenamente conscientes que a resposta que nos foi dada pelo chacham é a resposta certa para nós mesmo que não entendemos a lógica de tal resposta.

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