Balak estava preocupado com o destino de seu país. Em sua aflição, ele decide tentar usar “armas” não convencionais. Ele envia uma delegação a Bilam o mágico e o profeta da terra de Ptor, pedindo-lhe que venha e amaldiçoe, conforme consta na Torá (Bamidbar 22:6): “pois este povo é mais forte do que mim…pois eu sei que o que você abençoa, é bendito, e o que você amaldiçoa é amaldiçoado”. Balak, assim pensava, que este ato equilibraria o quadro de forças nesta região.
A delegação de Balak veio à casa de Bilam, e este lhes disse as seguintes palavras, como consta na Torá (Bamidbar 22:8): ” durmam aqui esta noite, e responderei a vocês, segundo o que D’us me disser”. Ele está, portanto, ciente do fato de que ele não pode fazer nada sem a permissão de D’us.
D’us profere palavras muito claras (Bamidbar 22:12): “Você não irá com eles, nem amaldiçoará o povo, pois este povo é abençoado”.
É possível questionar a intenção Divina? Bilam, lhes respondeu diplomaticamente uma resposta que pode ser compreendida por cada um dos lados segundo o que deseja ouvir (Bamidbar 22:13): “voltem para suas terras, pois D’us não me deixa ir com vocês”. Bilam não lhes revelou a verdade que D’us não quis que ele amaldiçoasse o povo, e sim lhes deu a sensação que D’us “cobra” de Moav um respeito maior para Bilam, solicitando emissários de nível maior, mesnagem entendida por Balak, que lhe enviou emissários de nível maior, prometendo conceder a Bilam todo o solicitado por ele para amaldiçoar o povo.
Bilam conhece muito bem a opinião negativa de D’us sobre o que o Balak deseja que ele cumpra, no entanto, ele convida a distinta delegação para sua casa em uma linguagem que revela as entranhas de seu coração, conforme consta na Torá (Bamidbar 22:19): “sentem vocês aqui esta noite, e saberei o que D’us me dirá”.
Uma esperança bate em seu coração, que talvez haja uma mudança na vontade Divina, que talvez possa (Bilam), destruir e aniquilar o povo com suas palavras.
Neste momento, acontece a esperada “reviravolta” Divina (Bamidbar 22:19-20): “caso as pessoas vieram lhe chamar, levante-se e vá com elas, porém (saiba que sua força é limitada, e portanto) somente o que EU te dizer, farás”.
O que aconteceu? Será que D’us se arrependeu de sua exigência anterior: “Você não irá com eles?” Examinando os acontecimentos, percebemos uma grande e profunda lição.
Bilam se alegrou com a resposta de D’us. Ele se levanta de manhã e, com as próprias mãos, arruma seu veículo, o jumento, e sai com os emissários de Balak.
Bilam se apressa, pois está com imensa vontade de amaldiçoar o povo de Israel, porém seu veículo lhe causa problemas no caminho. Assim consta na Torá (Bamidbar 22:22-23): “D’us ficou irado, pois Bilam estava indo (com muita vontade de amaldiçoar), e o anjo Divino se pôs no caminho, para atrapalhá-lo…e viu o jumento (que) o anjo Divino (estava) parado no meio do caminho e a sua espada desembainhada na mão”.
Um imenso medo atacou o jumento por causa do anjo Divino, o que causou que o jumento se desviou do caminho. Este obstáculo fez com que Bilam ficasse muito nervoso com seu jumento, a tal ponto que Bilam bateu nele com seu cajado.
Por que Bilam feriu seu jumento? Por que ele estava com raiva dele? O motivo é óbvio, ele não lhe obedeceu, principalmente nesta missão “tão importante” para Bilam.
Quando Bilam bateu em seu jumento pela terceira vez, este por sua vez, reclamou a seu mestre (Bamidbar 22:28): “que lhe fiz, que você está me batendo…(respondeu Bilam) pois você me causa problemas…caso eu possuísse uma espada, lhe mataria”.
Bilam não ficou surpreendido com o fato de que seu jumento falou, e sim ele ficou “surpreendido”, com a lógica de seu jumento, a tal ponto, que ameaçou-o de morte. Palavras que revelaram sobre Bilam, o vazio de sua arrogância.
O Midrash Yalkut Shimoni ensina que o jumento disse a Bilam, que você não pode me matar, pois você não tem uma espada. Como você deseja “apagar” um povo inteiro do mapa? Bilam ficou em silêncio, sem lhe conceder nenhuma resposta.
Esta foi mais uma prova Divina, que Bilam teve em seu caminho ao pecado e em sua péssima transgressão da vontade Divina, “o jumento que venceu em seu argumento, o sábio dos sábios”.
E mesmo assim, Bilam, que estava preso com algemas do ódio sobre o povo escolhido, não aprendeu esta lição. O suborno que receberia de Balak, cegaria sua visão.
Daqui podemos aprender, “que no caminho desejado pela pessoa, neste caminho será levado” (Midrash Raba 20:1). Neste ensinamento está incluso o motivo de D’us ter se “arrependido”, por concordar que Bilam fosse com a delegação de Balak. D’us não interfere nos atos de cada um, esta é a essência do livre arbítrio, que a decisão de todos seus atos, está nas mãos da própria pessoa. Por outro lado, Bilam sabia perfeitamente que D’us não lhe permitiria amaldiçoar o povo, e mesmo assim ele pensou que acharia um “jeitinho” de contornar a vontade Divina.
Nesta parashá vemos um exemplo clássico de uma pessoa que foge de si mesmo. Porém no próximo caso citado adiante, vemos o exemplo de uma pessoa que procura realmente sempre fazer a vontade Divina e demonstrando esta vontade, alcança seu objetivo.
Rabi Moshe Aharon Stern nasceu nos EUA. Aos oito anos de idade, ficou gravemente doente. Seu pai, foi aos melhores médicos, pediu a diversos Rabinos que rezassem por seu filho, falou diversos capítulos de Tehilim. Em certo momento, disse o pai a seu filho: veja, todos estão fazendo algo para sua pronta cura, menos você.
Perguntou o menino: o que devo fazer?
Disse seu pai: receba sobre você algum bom comportamento, que quando você levantar dessa doença, você cumprirá tal comportamento.
O menino aceitou e perguntou: o que por exemplo?
Disse seu pai: receba sobre ti, que quando você ficar curado, você sempre se esforçará para rezar em minian.
O menino prometeu, e realmente ficou curado.
Ele cumpriu sua promessa com dedicação ao longo de vários anos. Em um dos anos, quando já era o diretor espiritual da yeshivá de kaminets em yerushalaim, o local já era pequeno para conter todos seus alunos. Foi decidido pela direção da Yeshivá que ele saísse aos EUA, para angariar fundos para a aquisição de um prédio maior para a Yeshivá.
Ele chegou à agência de viagens e perguntou em qual avião haveria um minian para a tefilá.
Disseram a ele: Rabino, aqui é uma agência de viagens, e nã ma sinagoga. Não temos certeza que conseguiremos arrumar para você um minian.
Disse o Rabino: sendo assim, não poderei viajar!
Disseram a ele: poderemos oferecer a você uma viagem com conexão em Amsterdam.
O rabino calculou que haveria tempo para rezar em minian na sinagoga local, no tempo de escala.
O avião pousou, e a sua frente duas horas livres, até a continuação da viagem
O Rabino não sabia onde era a sinagoga local, portanto, pegou seu talit e seu tefilin, saindo do aeroporto.
De repente, para a seu lado um carro e pergunta: aonde o sr precisa ir, prezado Rabino?
Disse o Rabino: estou procurando minian para shacharit.
“Que o Rabino entre no carro”. Disse o motorista que ele é um yehudi que vive fora da cidade, e que todos os dias viaja de carro até ela para rezar antes de ir a seu trabalho.
Depois de alguns minutos de viagem, eles param o carro em uma das ruas da cidade, entrando numa sinagoga que haviam lá OITO!!!! pessoas para a tefilá.
Rezaram em minian. Após a tefilá, o motorista completou a mitsvá e levou o Rabino de volta ao aeroporto.
Quando o Rabino Stern terminou este conto, disse o seguinte: vejam só, oito pessoas levantaram cedo e foram a sinagoga rezar em minian. O nono veio de fora da cidade. De onde deveria aparecer o décimo?
D’us fez que chegasse a eles, um yehudi de eretz israel, a caminho dos EUA!!!
No Talmud (Shabat 87) consta no Tossafot, que é possível para uma pessoa receber aprovação explícita do céu por suas ações, e isso ainda não é prova de que esta é a vontade de D’us, mas sim um resultado de sua vontade dentro da estrutura geral. de ‘no caminho que uma pessoa quer seguir, nele será seguido”. De acordo com esta filosofia do Tossafot, Aharon e Miriam sabiam que D’us havia concordado com Moshe que deixasse sua esposa. porém de qualquer modo, na opinião deles esta não era a orientação correta de acordo com a Halachá, pois eles viram isso como consentimento para sua vontade no sentido de ‘no caminho que um homem quer seguir, ele é conduzido’. Incrível!
E assim escreve Rabi Tzadok HaCohen: “ às vezes uma pessoa vê claramente que D’us a ajuda e concorda com suas ações. No entanto, isso não é evidência de que suas ações são verdadeiramente corretas, e sobre isso é dito que D’us guia a pessoa no caminho escolhido por ela.
Portanto, quão grande é a força do poder de escolha do homem e quanta responsabilidade recai sobre ele por sua escolha, e não exatamente pelo ato final, mas pela escolha do caminho e pela inclinação da vontade, porque depois que ele ‘escolhe agradar’ um determinado caminho ou decisão – ele já é conduzido….
A necessidade de reconhecer a verdade real requer óculos muito limpos, um olhar puro e desinteressado, e a primeira coisa necessária para isso é o reconhecimento do fato de que somos de fato tendenciosos e ‘interessados’ , depois disso consultamos uma pessoa sábia e leal que não tem interesse – e juntos, com muita tefilá e um desejo real de chegar à verdade, esperamos obtê-la.
Às vezes, o conselho certo e a identificação real virão de alguém que está muito próximo de nós e sabe reconhecer nossos ‘interesses’ e, no entanto, estamos prontos para ouvir a verdade dele – ele pode servir como um sinal de alerta para nós. Tivemos um exemplo maravilhoso disso na Parashat Korach. On ben Pelet era um dos membros do grupo de Korach e seus líderes, conforme declarado no início da parashá. Depois disso, ele se retirou de cena. Sua esposa sábia que revelou a verdade a ele com a declaração comovente: ‘Bem, em qualquer caso, você não será o chefe. Portanto, que diferença faz se Moshe é o chefe ou se Korach é o chefe?
Não há dúvida de que On Ben Pelet não se via como um político em busca de governar, ele tinha certeza como todos os outros de que a justiça e o desejo pela verdade falavam de sua garganta. No entanto, a declaração de sua esposa – que reconheceu a verdade pungente sob as cobertas – caiu em um ouvido atento e, com a ajuda de sua esposa, ele conseguiu escapar do amargo fim…
E a verdade é que a grandeza aqui é precisamente de On, que soube ouvir as críticas – e como se vê tinha sim o verdadeiro desejo de chegar à verdade – e foi conduzido pelo caminho que quis percorrer. ..
Um acontecimanto maravilhoso que nos mostra o quanto ‘no caminho que uma pessoa quer seguir, neste caminho é conduzido’ é contado no Midrash Rabbah, sobre um homem que estava muito acostumado a beber vinho e ficar bêbado até vender seus utensílios domésticos, para que possa beber vinho.
Seus filhos diziam uns aos outros, assim nosso pai não vai nos deixar nenhuma propriedade!!! O que eles fizeram, eles o regaram com vinho até ele ficar bêbado, eles o levaram para fora da cidade e o colocaram em uma caverna preparada para enterrar os mortos, e a intenção deles era que quando ele acordasse e visse onde está, isto causaria que volte de seus maus caminhos, eles o deixaram lá e foram para sua casa e ele permaneceu deitado na caverna dormindo em sua embriaguez.
E aqui aconteceu algo milagroso naquele mesmo lugar, uma caravana de mercadores de vinho carregados de vinho passou a caminho do povoado perto do deserto, quando chegaram perto da caverna, ouviram um grande alvoroço vindo da cidade, e parecia para eles como o som de uma guerra estourando na cidade, por causa de seu grande medo e preocupação por eles e pelos bens preciosos em suas mãos, eles procuraram um lugar para enterrar a quantidade de jarros de vinho que tinham até que sua raiva passasse, e quando encontraram a caverna, eles rapidamente descarregaram todos os barris de vinho e os colocaram dentro daquela caverna. E naquela caverna estava dormindo o mesmo homem cujos filhos o ajudaram em sua embriaguez para dissuadi-lo de seu hábito de beber vinho.
E aqui quando aquele homem bêbado, olhou para cima, ele não podia acreditar em seus olhos, dentro de uma caverna no deserto com tanta abundância de vinho!! E então ele bebeu à vontade sem trégua. Depois de três dias seus filhos disseram que será que não vamos ver o que é feito com nosso pai? Eles foram e chegaram à mesma caverna e o que eles veem? O pai deles está deitado e o vinho ainda está na boca, eles disseram até aqui D’us não vai te deixar e já que Ele te dá não sabemos o que fazer contra a vontade de D’us eles fizeram um regulamento entre eles que cada um deles servirá vinho de seu pai um dia.
Rabi Eliyahu Dessler zt’l disse sobre isso: fiquei maravilhado com as palavras desses sábios, ao ver que o caminho que uma pessoa quer seguir está sendo conduzido, não apenas no caminho da natureza, mas também por motivos distantes, quase no caminho de um milagre por motivos diversos e distantes! E se assim ele conduz a pessoa em seus caminhos mesmo sendo um mau caminho, então a boa medida é que para um caminho completo que aproxima a pessoa de D’us, é muito maior.