Consta na Parashat Vaetchanan e também na Parashat Itró, sobre os Dez Mandamentos. Na Parashat Itró está escrito o seguinte em relação ao mandamento de respeitar os pais: Honre a seu pai e a sua mãe para que sejam prolongados seus dias sobre a terra que D’us lhe concede. Na Parashat Vaetchanan estão escritas as mesmas palavras, porém com o simples acréscimo “do mesmo modo que foi ordenado por D’us”. A mesma diferença existe em relação ao mandamento de Shabat. Ou seja, na Parashat Vaetchanan estão escritas as mesmas palavras, porém com o simples acréscimo “do mesmo modo que foi ordenado por D’us”. A pergunta é, será que em relação a estes mandamentos, existe algo que não foi ordenado por D’us, será que há uma diferença entre o ordenado na Parashat Itró e o ordenado na Parashat Vaetchanan?
No Talmud (Sanhedrin 56 b) consta, que dez preceitos foram ordenados ao povo de Israel na saída do Mar Vermelho. Sete preceitos ordenados aos filhos de Noach, respeitar aos pais, leis e Shabat. Em relação à Shabat e ao respeito aos pais, está escrito na Parashat Vaetchanan, “do mesmo modo que foi ordenado por D’us”.
Na Parashat Kedoshim, também está escrito o preceito de Respeitar os pais, junto com o preceito de Shabat “que o homem tenha temor da sua mãe e do seu pai e que guarde meus Shabatot…”.
A pergunta é por que justamente estes dois preceitos, estão sempre juntos? Que ligação há entre eles? Por que na Parashat Vaetchanan está escrito “do mesmo modo que foi ordenado por D’us” e não na Parashat Itró?
O Malbim (Shemot 20:12) explica que os preceitos de Shabat e de respeitar os pais, estão sempre juntos um com o outro. Pois nos seis dias da criação D’us criou os homens e toda a criação. Caso Ele não fizesse uma pausa no sétimo dia, e sempre criasse também no sétimo dia do mesmo modo que criou nos outros seis dias, não existiria a situação de pais, mães e filhos. Pois tudo seria criado e feito por D’us sem nenhuma participação alguma de qualquer ser-humano. Somente através do fato que deixou de criar no sétimo dia, é que fez com que os seres humanos participassem da criação. Com isso os pais (e as mães) têm sociedade com D’us na criação dos seres humanos, através que os pais participam com a criação do corpo e D’us insere a alma dentro da pessoa.
Portanto, sempre são colocados estes dois preceitos juntos, para que saibamos que todos aqueles que respeitam a seus pais, são considerados como estivessem respeitando à D’us. Portanto, a recompensa por este preceito é uma recompensa material, uma vez que ele respeita a parte material da sociedade entre os pais e D’us.
O motivo pelo qual está escrito “do mesmo modo que foi ordenado por D’us”, é para que cada um cumpra este preceito pela simples vontade de cumprir a ordem de D’us, e não pela recompensa prometida. E mesmo assim foi necessário escrever isto somente na segunda vez que estão escritos os dez mandamentos, pois já não estavam em um nível alto de espiritualidade, como estavam na outorga da Torá quando proclamaram “faremos e ouviremos”.
O Talmud (Kidushin 30b) explica que três sócios existem na pessoa, o pai, a mãe e D’us. No momento que a pessoa cumpre suas obrigações em relação aos seus pais, D’us considera como se estivesse morando entre eles, porém se não, …..
Para entender melhor a ligação entre estes dois preceitos, devemos entender o que significa a linda qualidade de agradecer aos outros por um favor feito à nós.
No livro de Shemot (7;19) consta que quando D’us ordenou a Moshe sobre a primeira praga, a praga do sangue, disse que Aharon colocasse seu cajado nas águas do Egito. O midrash pergunta, porque a praga da água não foi feita por Moshe? A resposta foi dada por D’us: a água tomou conta de Moshe quando foi posto no cesto no Nilo, depois de terem passado os três primeiros meses de nascimento. Portanto, por agradecimento à água, esta será amaldiçoada por Aharon. O mesmo se aplica em relação às pragas feitas na terra, que foram feitas por Aharon, uma vez que a terra protegeu Moshe quando este enterrou o egípcio que o matou com o nome sagrado de D’us.
Este midrash necessita ser esclarecido. 1) tanto a água quanto a terra não influenciaram nada em Moshe, eles não fizeram mais do que suas missões naturais, Moshe foi ele que utilizou o que a água e a terra fazem ao cumprir suas missões, para sua utilidade no devido momento. Portanto, porque há necessidade de agradecê-los pelo que fizeram? 2) a água e a terra não sentem nada caso não recebam o devido agradecimento pelo que fizeram à Moshe. Portanto, porque há necessidade de agradecê-los pelo que fizeram?
Explica o Michtav Me Eliahu que nesta passagem nos ensinam Chazal que cada qualidade de comportamento da pessoa, é influenciada pelos sentimentos e não só pela lógica. Portanto, caso não saibamos agradecer de modo adequado mesmo à água e a terra que não sentem nada, será influenciado dentro de nós o sentimento natural de agradecimento a qualquer um que nos faça qualquer favor e com isso será influenciada ao mal todas as outras nossas qualidades.
A pessoa que tem a perspectiva lógica em qualquer coisa, sempre encontrará no caso da água e da terra, a santificação do nome Divino que acontecerá nestas pragas. Porém caso não seja levado em conta a influência nos sentimentos naturais de cada pessoa ao visualizar este ato, este ato com certeza influenciará no sentimento natural de agradecimento. Por isso que D’us ordenou que Aharon e não Moshe fizessem as pragas citadas acima.
No Sefer Hachinuch, consta o seguinte sobre o preceito de respeitar os pais: é adequado que a pessoa reconheça e se comporte com generosidade àqueles que lhe trataram com bondade e carinho, e que não seja mal agradecido, pois esta qualidade é muito mal vista perante aos olhos de qualquer uma pessoa e principalmente perante aos olhos de D’us. Que a pessoa coloque em sua mente que seus pais são o motivo pelo qual a pessoa existe no mundo, e que por isso que a pessoa deve procurar fazer qualquer tipo de vontade e bondade para eles, dentro dos seus devidos limites. A pessoa que adquire para si esta linda qualidade de agradecimento ao próximo, também se eleva ao nível de agradecer ao Eterno, como está escrito em outra passagem de chazal, todo aquele que renega a bondade feita à ele por seu amigo, renegará a bondade feita pelo Eterno.
Baseando no Sefer Hachinuch, podemos entender mais profundamente a ligação entre o preceito de respeitar os pais e e guardar o Shabat.
Consta em chazal, que na verdade D’us poderia dar às pessoas a recompensa das mitsvot, sem que que a pessoa fizesse-as. Ele poderia dar pelo simples motivo que deseja fazer sempre o bem aos seres humanos e que sempre quer lhes dar tudo o que precisam. Porém deste modo as pessoas sentiriam envergonhadas ao receberem presentes sem dar nada em troca, por isso que um dos motivos que D’us fez com que as pessoas cumprissem seus preceitos, foi para que cada um sinta que participa do que recebe, para que não se sinta envergonhado.
Baseando-se nisto e na explicação vista anteriormente do Malbim sobre a ligação entre Shabat e o respeito aos pais, podemos explicar que através que as pessoas se acostumam a agradecer aos pais por tudo o que fizeram por eles, as pessoas podem também chegar ao ponto de agradecer a D’us por lhes ter dado a chance de sentir que participam também de tudo o que acontece com eles. Pois do mesmo modo que D’us nos ordenou à cumprir os devidos preceitos para que possamos receber a recompensa pelos preceitos feitos, sem sentir vergonha, ou seja, para que possamos sentir que estamos recebendo algo em troca de nossa participação no cumprimento dos preceitos, assim também D’us deixou de criar no Shabat, para que exista no mundo a simples realidade de que algo seja feito pelos seres humanos.
Certa vez, Reuven viu na rua uma criança órfã que estava andando na rua sem casa para viver e sem ter o que comer. Reuven trouxe esta criança para sua casa e cuidou dele como se fosse seu filho biológico. Quando o filho cresceu, ajudou Reuven a abrir um negócio, a tal ponto que este órfão teve tanto sucesso, que enriqueceu. Num certo dia Reuven perdeu todo seu dinheiro, a tal ponto que não tinha dinheiro para comprar comida. Ele resolveu ir conversar com seu filho adotivo para lhe pedir ajuda. Com certeza, disse Reuven à si mesmo, que meu filho me ajudará, pelo simples sentimento de agradecimento que ele tem por mim, por tudo o que fiz para ele.
Quando encontrou com seu filho, conversou com ele sobre vários assuntos, e no final lhe contou sobre sua situação e lhe pediu ajuda. O filho disse para si mesmo, que é óbvio que devo e quero ajudar à meu pai adotivo, porém quero ajudá-lo de modo respeitoso sem que sinta a mínima vergonha. Ele disse que no momento não tem dinheiro no bolso, porém imediatamente, com a ajuda de D’us, procurará o melhor modo possível de ajudar.
Por enquanto, Reuven voltou para sua casa. O filho, chamou à um de seus serventes, pediu que se vestisse como uma pessoa pobre, e lhe disse o seguinte: ofereça ao meu pai este valioso diamante pelo preço de um shekel. Reuven ao ver o diamante, resolveu investir nele uma das últimas moedas que tinha em sua posse. Depois de alguns dias o filho mandou um dos outros serventes vestido como rico, para que comprasse de Reuven a pedra valiosa, pelo valor verdadeiro que valia. Deste modo o filho fez com que seu pai Reuven enriquecesse novamente sem que passasse por mais vergonha.
Esta é um belo conto de agradecimento e de tsedacá feita sem que a pessoa passe vergonha. Porém o maior agradecimento que encontramos neste caso, não foi o dinheiro dado pelo filho à seu pai, e sim o fato que o filho absorveu para si a boa qualidade que seu pai se comportou com ele, generosidade e piedade.
A maior satisfação que um filho pode dar aos seus pais é continuar o caminho dos bons atos ensinado e transmitidos pelos pais. No Talmud (Kidushin 31a), consta o caso de Dama Ben Netina. Os sábios de Jerusalém necessitavam de uma pedra especial que faltava em uma das roupas do Cohen Gadol. Esta pedra estava no tesouro de Dama Ben Netina. Quando os sábios foram à casa de Dama pedir para comprar a pedra, Dama percebeu que a chave do tesouro estava abaixo do travesseiro sobre o qual seu pai estava dormindo. Dama não queria acordar seu pai, e os sábios pensaram que o motivo pelo qual não lhes vendia a pedra, era porque o preço oferecido era baixo. Os sábios aumentaram o preço cada vez mais que Dama recusava vender. Ao final, quando seu pai despertou do sono, Dama vendeu a pedra pelo primeiro preço oferecido pelos sábios. Ele não quis aproveitar do preço elevado que foi oferecido pelos sábios, uma vez que já havia aceitado vender pelo primeiro preço. No ano seguinte D’us lhe presenteou com uma vaca vermelha nascida no seu rebanho. É sabido durante toda história do nosso povo, que
existirão somente dez vacas totalmente vermelhas, que são usadas para a purificação dos impuros por tocarem em mortos, que será usada em breve quando chegar o Mashiach que purificará todo o povo.
A pergunta que deve ser feita é a seguinte: que ligação há entre o preceito de respeitar os pais e o preceito a ser cumprido com a vaca vermelha?
Segundo o citado anteriormente, a base do preceito de respeitar os pais, é o agradecimento que devemos ter à eles por nos terem trazido à este mundo. Por outro lado, a vaca vermelha, significa o cumprimento de todos aqueles preceitos que devemos cumprir, mesmo sem entender, somente pelo simples fato que devemos sempre cumprir a vontade de D’us.
O Rav Saadia Gaon, ensina que não há modo que possamos devolver qualquer tipo de agradecimento para D’us, pois tudo é Dele e ele não necessita de nada de nós. Porém do mesmo modo que qualquer pessoa tem satisfação quando é feita sua vontade, assim também D’us tem satisfação quando é feita Sua vontade, e com isso fazemos um ato de agradecimento à Ele.
Aprendemos daqui, que justamente através dos preceitos cumpridos através da vaca vermelha, é despertado o sentimento de fazer a vontade de D’us, mesmo que não entendamos o que fazemos. Com isso podemos agradecer à D’us pela simples vontade de fazer Sua vontade sem nenhuma participação de entendimento pessoal, somente pela simples e pura vontade de cumprir Seu desejo.
Este tipo de agradecimento, desperta em nós mais profundamente o agradecimento devemos ter no preceito de respeitar os pais, pois aprenderemos que o dever de cumprir este preceito não é pelo nosso entendimento e lógica que há neste preceito, e sim pela simples ordem dada à nós por D’us.