Parashat Chukat

A primeira a ser prestada, é o próprio fato que a pessoa viveu sem prestar contas – Parashat Chukat

Em certa aldeia distante da civilização, chegaram dois visitantes, um deles homem de negócios bem vestido, e o outro seu assistente. O homem virou-se para todos os aldeões e anunciou que desde que ele era adolescente, era um amante de macacos, e estava disposto a pagar por cada macaco, $ 10. Os aldeões, que estavam cercados por muitos macacos, saíram para a floresta e começaram a capturá-los. O homem comprou milhares de macacos por $ 10 cada macaco, mas à medida que a população de macacos se encolheu a ponto de ser difícil localizá-los, os aldeões pararam seus esforços. Como resultado, o homem anunciou que pagaria $ 20 por cada macaco. Este anúncio renovou os esforços dos aldeões e eles retomaram seus esforços para capturar os macacos.

Logo, no entanto, o fornecimento de macacos foi ficando escasso, e com isso, o homem elevou sua oferta para $ 25, a demanda de macacos foi muito reduzida, e era difícil ver até mesmo um macaco na floresta, quanto mais capturá-los. O empresário anunciou que agora compraria macacos por $ 50. Porém, como ele deve ir à cidade grande para negócios, nomeou seu dedicado assistente, para que adquira os macacos em seu nome. Durante a ausência do chefe, o assistente disse aos aldeões: estou disposto a vender-lhes cada macaco por US$35 e quando meu chefe retornar da cidade, vocês podem vendê-los a ele por US$50, cada macaco.

Os aldeões estavam excitados, reuniram e concentraram todas as suas economias e compraram todos os milhares de macacos do ajudante. Desde então, eles nunca viram o homem ou seu assistente … Tudo o que viram foram milhares de macacos que eles compraram com o seu melhor dinheiro! …

Esta parábola, demonstra, como o yetser hará (mal-instinto) faz diversos e espertos truques, para que a pessoa caia em sua rede, sem que perceba a trapaça que o yetser lhe faz, que no final das contas, a verdadeira intenção do yetser, “baterá de frente” na face de cada um.

 

No final de Parashat Chukat, a Torá nos relata sobre o caminho do povo no deserto. Ao passarem perto do território de Sichon, solicitam passar por este território, durante o caminho à Terra de Israel. Sichon, recusa a este pedido e vai contra eles para a guerra, no final da qual o povo conquista-o. Assim relata a Torá sobre esta conquista (Bamidbar 21:24-25): “e feriu-os (o povo de Israel) segundo a espada, e ele herdou sua terra … Israel tomou todas estas cidades, habitando em todas as cidades do Emori, em Cheshbon e em todas as suas “filhas”. Logo em seguida, a Torá descreve prolongadamente, sobre o grande mérito de conquistar a cidade de Cheshbon e toda sua região: “pois Cheshbon é a cidade de sichon, o rei dos Emoriim. E ele fez guerra contra o primeiro rei de Moav, e pegou toda sua terra de suas mãos, até a região de Arnon. Portanto dirão os conquistadores, venham para Cheshbon para que seja construída e preparem a cidade de sichon”

 

Devemos entender o significado da expansão nestes pessukim! Que ensinamento podemos retirar do conhecimento do andamento da guerra entre dois povo alheios a nosso povo?

 

Para entender isso, precisamos primeiro esclarecer a explicação mais simples e básica destes pessukim. D’us ordenou o povo de Israel não conquistaram a terra de Moav, pois esta parte da terra é de herança à família de Lot (sobrinho de Avraham Avinu), conforme consta na Torá (Devarim 2:9). Esta ordem foi dada em todo tempo que a terra de Moav está no domínio de Moav. Quando o povo recebeu a ordem Divina de fazer guerra contra Sichon e contra Og o rei de Bashan, caso não permitam que o povo passasse em suas terra a caminho da Terra de Israel, a cidade de Cheshbon estava no domínio de Sichon, mesmo que originalmente era de domínio de Moav. Isto significa, que caso o território de Cheshbon estivesse nas mãos de Moav, o povo de Israel estaria proibido de conquistá- la. Porém como este território foi conquistado por Sichon, o povo de Israel pode conquistá-lo de Sichon, mesmo que na origem pertencia a Moav.

 

Como dito acima, Sichon recusou que o povo passasse em seu território, abrindo imediatamente guerra contra eles. Nesta guerra, o povo de Israel venceu-os e com isso conquistou todos os territórios pertencentes a Sichon. Porém como a capital de Sichon era Cheshbon, território original de Moav, a Torá teve que explicar o por que desta conquista, para que o povo não passasse por tal proibição ao tê-la (a cidade de Sichon) em sua posse.

 

Sobre a conquista do território de Cheshbon, a Torá relata (Bamidbar 21:27-30): “Portanto, os conquistadores dirão: venham a Cheshbon. Seja construída e preparada, a cidade de Sichon…”. A explicação simples e superficial é que quando no passado Sichon conquistou Moav, os líderes do exército daquela época exclamaram a vitória bem planejada, por ser bem esperta com enorme resultado. 

 

Aqui novamente vem aquela pergunta óbvia: o que esse assunto nos pertence ?! Este assunto, é explicado no Talmud (Baba Batra 78b): ” Disse Rabi Shemuel Bar Nachman em nome de Rabi Yochanan. O que significa “Portanto dirão os conquistadores!!“? Responde o Talmud, os conquistadores se relacionam às pessoas que conquistam seus instintos. Venham a cheshbon (traduzindo do hebraico, siginifica façam contas), ou seja, vamos fazer as contas do mundo. A perda de uma mitsvá, deve ser comparada à recompensa da mesma. Ou seja, a dimensão da perca de uma mitsvá, é comparada à dimensão da recompensa da mesma. Se a mitsvá é de recompensa grande, assim também o que perde a pessoa por esta mistvá. 

 

A “recompensa” por ter feito um pecado, é comparada à perda desta recompensa caso não tivesse transgredido tal pecado.

 

Este assunto, é explicado por Rabi Yehudá Hanassi em Pirkei Avot (a explicação trazida aqui, contém as palavras do Rabino Ovadia Bartenura):

 

Recompensa pela mitsvá – calcule o que perderás ao deixar de cumprir uma mitsvá. O que você perder de sua mercadoria e de seus pertences por estar ocupado com determinada mitsvá,  compare isto com a recompensa recebida por ti neste mundo ou no mundo vindouro, que obviamente a recompensa será maior do que você perdeu por estar ocupando-se com tal mitsvá.  

 

Recompensa pelo pecado – o prazer obtido na transgressão do pecado, será comparado pelo sofrimento (que é muito maior do que o prazer citado acima) que terás por transgredir tal pecado.  

Para que seja construída e preparada – caso a pessoa siga esta conduta de vida, ela construirá sua personalidade e sua alma neste mundo, para estar preparada para o mundo vindouro.

 

A cidade de Sichon- a palavra sichon em hebraico se escreve סיחון; a raiz da palavra סיחון é סייח. A palavra cidade se escreve עיר, que também tem o significado de burro ou jumento. A explicação é que caso a pessoa se comporte como este עיר (burro ou jumento), que o que tem em sua mente é somente ir atrás de sua סייח (sua parceira), ou seja, que não controla seus desejos e instintos, será simplesmente consumido pelo fogo de seus desejos, como relata a Torá na continuação dos pessukim citados acima.  

 

A resposta da guemará exige uma explicação, por parecer parece muito distante do significado mais simples e superficial das palavras.

 

A explicação é a seguinte: quando nos aprofundarmos no que aconteceu na cidade de Cheshbon, faremos uma profunda busca em nossas almas. Aqui, à primeira visão, quando Sichon conquistou a região de Cheshbon, foi num ponto e posição estratégicos. 

 

Caso a imprensa existisse naquela época, seria anunciado que Sichon era um oficial de guerra, bem estratégico e competente. Porém a Torá divulgou de modo correto, as conclusões e consequências destes acontecimentos, conforme o citado acima sobre a recompensa das mitsvót e a “recompensa sobre as transgressões dos pecados. 

 

A coisa mais importante a ser feita, é o cálculo, que por maior que seja a estratégia, o mais importante  é cumprir a vontade Divina. O povo de Israel para passar por tal região, seguiu somente as orientações e condutas Divinas, sem transgredí-las por um único momento. Pois D’us disse para pedir permissão para passarem por tal região, que não iriam pegar nada sem permissão e que pagariam pela água bebida. A partir do momento que a passagem foi recusada, o povo se preparou para contornar tal região. Somente quando Sichon resolveu sair para a guerra contra o povo de Israel, foi que o povo conquistou-os.

 

Agora podemos entender as palavras do Rabino Shmuel Bar Nachman: Assim podemos aprender o poder e a fraqueza do Yetzer hara (mau instinto). Devemos sempre calcular nossos atos para cumprir estritamente a vontade Divina, sempre fazendo cálculos das consequências posteriores de nossos atos.  Quando a pessoa cai em tentação, ele é forçado a “calcular” como ocorreu o processo da queda. Onde está sua fraqueza? Como sabemos, o yetser hará tem um grande poder para inclinar ao mal, proporciona um “prazer imediato-pagando imediatamente em dinheiro vivo”, enquanto que o yetser tov (bom instinto), “paga com cheque pré datado”, solicitando que a pessoa tenha uma visão profunda e distante, calculando as futuras consequências de seus atos e atitudes. 

 

A raiz da guerra entre o bom instinto e o mau instinto, é diferença dentre aqueles que desejam tudo AGORA E IMEDIATAMENTE, entre aqueles que CALCULAM SEUS ATOS, LEVANDO EM CONTA UMA FUTURA PERSPECTIVA.

 

Esta é a resposta do longo relatório contado pela Torá, sobre as conquistas de Sichon. Tal relatório foi somente uma demonstração de como funciona os métodos das armadilhas do yetser hará, tentando oferecer grandes recompensas imediatamente, para que as pessoas não pensem e percebam as armadilhas postas no caminho de cada um e um. Portanto, a Torá relatou o processo de conquista de Cheshbon para que saibamos que mesmo que aparentemente o povo estava transgredindo o preceito Divino de não conquistar a cidade de Cheshbon, de qualquer modo, calculando os acontecimentos e aprofundando-se nos pessukim, chegaremos ao ponto de que não podemos julgar nada pela aparência. 

 

Nada mais profundo expressa este ensinamento, do que a parábola inicial deste artigo, sobre os “businessman” que fez com os aldeões, compra e venda de macacos.

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