Aprecie o que você tem

“O dono de um pequeno sítio era muito amigo de um famoso escritor, e certa vez pediu-lhe um favor:

– Estou precisando vender aquele meu sítio, que você conhece tão bem. Sei que você tem o dom de escrever bem, então você poderia redigir um anúncio para eu publicar no jornal?

O escritor, que realmente era muito talentoso, imediatamente apanhou um papel, passou alguns instantes relembrando as imagens do sítio e escreveu: “Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer, no extenso arvoredo cortado por cristalinas e marejantes águas de um ribeirão. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranqüila das tardes na varanda”.

Meses depois, o escritor encontrou com o dono do sítio e perguntou se o anúncio havia funcionado. O homem respondeu que sim. Quando o escritor perguntou se ele conseguido um bom dinheiro, o dono do sítio abriu um sorriso envergonhado e falou:

– Na verdade, o anúncio funcionou para mim mesmo. Eu realmente queria muito vender o sítio porque achava que ele não tinha nada de especial. Quando li o anúncio, percebi a maravilha que eu tinha e não tive mais coragem de vender”

Será que nós conseguimos realmente perceber tudo de bom que temos em nossas vidas?
 


A Parashá desta semana, Shoftim, traz um assunto interessante. Quando o povo judeu entrou na terra de Israel, cada uma das tribos recebeu um pedaço de terra, dividido por sorteio. Mas os Cohanim (sacerdotes), que eram da tribo de Levi, não receberam nenhum pedaço de terra, para que pudessem se dedicar exclusivamente às atividades espirituais, entre elas o serviço do Beit-Hamikdash (Templo Sagrado). Mas se os Cohanim não receberam terras, em uma época onde a agricultura e a criação de animais era a principal fonte de renda, do que eles viviam?

A Parashá nos ensina que D'us comandou ao resto do povo dar presentes para os Cohanim, para que eles pudessem ter uma subsistência. Por exemplo, quando uma pessoa trazia um sacrifício, algumas das partes do animal sacrificado eram dadas aos Cohanim. Também os primeiros frutos das plantações de grãos e de uva eram dados de presente aos Cohanim. A Torá nos ensina que no total os Cohanim recebiam 24 tipos diferentes de presentes, e assim conseguiam seu sustento sem prejudicar nem diminuir o serviço espiritual do povo judeu.

Observando as Mitzvót da Torá, vemos algo interessante. Das 613 Mitzvót, nem todas se aplicam a todo o povo judeu. Por exemplo, há diversas Mitzvót que se aplicam somente aos Cohanim. No total, são 24 Mitzvót que somente os Cohanim estão obrigados a cumprir. Será que é uma coincidência, ou há alguma relação entre os 24 presentes que os Cohanim recebiam e as 24 Mitzvót que somente eles estavam obrigados a cumprir?

O judaísmo ensina que na vida não existem coincidências. Explica o livro Chovot Halevavot (Deveres do coração) que o nível que cada pessoa precisa cobrar de si mesma na sua conexão espiritual deve ser de acordo com as bondades que D'us faz com ela, entre elas as bondades gerais, que outras pessoas também recebem, e principalmente as bondades específicas, que somente ela recebe. Os Cohanim realmente tinham mais Mitzvót, e com isso se conectavam espiritualmente em um nível mais alto, por causa dos presentes que somente eles recebiam.

Mas este ensinamento não se aplica apenas aos Cohanim, se aplica a cada um de nós. A obrigação que temos de nos conectar com D'us é proporcional às bondades que recebemos Dele. Tanto as bondades gerais, tais como nossa saúde e a própria vida, quanto as bondades específicas, tais como as pessoas queridas e especiais de nossas famílias, o lar onde nascemos, nosso círculo de amizades, etc. Mas será que realmente nos sentimos “endividados” pelas bondades que recebemos? Infelizmente não, pois recebemos tantas bondades, e de forma tão constante, que não conseguimos reconhecer e agradecer.

Estamos entrando no mês de Elul, o último mês do ano. É um mês de preparação para Rosh Hashaná, dia em que todos os nossos atos serão julgados e todos os acontecimentos do próximo ano serão decididos. Como se preparar para Rosh Hashaná? Aproveitando o momento em que D'us está mais próximo de nós para refletir sobre cada bondade que recebemos Dele. Pois somente refletindo vamos entender que, do momento em que abrimos os olhos até a hora de dormir, tudo o que acontece conosco é uma grande bondade de D'us. E se recebemos tanto Dele, será que não é hora de fazermos algo por Ele?

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm
 

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