Em seu livro Tif’êret Hayahadut, o Rabino Binyamin Efrati nos diz que no mundo há duas espécies de valores: os valores quantitativos e os valores qualitativos. A relação entre a quantidade (sem levar em consideração o conteúdo) e a qualidade é a mesma que existe entre o natural e o sobrenatural.
Os valores quantitativos estão expressos no material, nos elementos que não possuem santidade (divrê chol) e nos povos do mundo, enquanto os valores qualitativos estão expressos no espiritual, nos elementos que possuem kedushá (santidade) e na Torá de Israel.
Durante o domínio greco-assírio que conspirou para impor restrições às práticas e aos valores do judaísmo, deflagrouse uma rebelião dos judeus, liderada pelos Chashmonaim (Matityáhu ben Yochanan Cohen Gadol e seus filhos), que culminou com a reinauguração do Templo de Jerusalém, no ano 3595, e que hoje é comemorada por nós durante os oito dias da festa de Chanucá.
Nessa ocasião, houve um sério confronto entre estes dois valores. Os valores materiais tinham uma extrema importância na cultura grega. Esta tinha por objetivo o esquecimento dos valores qualitativos que são eternos e que estavam expressos no Povo de Israel, na sua Torá e no cumprimento das mitsvot.
A cultura grega atribuía qualidades divinas aos elementos e aos fenômenos naturais, amava o materialismo e sublimava a inteligência, esquecendo-se de que sem a força do Criador, o cérebro seria incapaz de funcionar. A cultura judaica confia na sabedoria que o Todo-Poderoso dá aos homens e por isso, na Amidá, após as três primeiras bênçãos, nós recitamos a seguinte berachá: “Atá chonen leadam dáat” – Tu (o Criador) dás ao homem sabedoria.
Pelo fato de a sabedoria judaica ser um confronto à cultura grega, queriam anular a cultura de Israel, a Torá, a emuná e a kedushá. Aqui está a diferença entre a época de Purim e a de Chanucá. Mesmo que o Povo de Israel cedesse em seu judaísmo, não seria suficiente para Haman, pois este queria aniquilar todo o povo. Os gregos, entretanto, aceitariam o Povo de Israel de bom grado, caso rejeitassem suas crenças. Portanto, os gregos declararam a guerra contra o espiritual para fazer o material prevalecer.
A vitória da minoria fraca de judeus sobre a maioria forte dos gregos está descrita no trecho de “Al Hanissim”, acrescentado na Amidá e no Bircat Hamazon em Chanucá. Durante os oito dias proferimos: “massarta guiborim beyad chalashim verabim beyad meatim” – entregaste os fortes nas mãos de fracos e os numerosos nas mãos de poucos. Isto representa a vitória da qualidade sobre a quantidade.
Por que a minoria fraca venceu a maioria forte? Porque apesar de ser minoria, a qualidade tinha maior valor que a quantidade.
Este fato manifestou-se também no milagre da ânfora de azeite. São necessários oito dias para produzir azeite puro. Depois de vencida a rebelião, os judeus procuraram azeite puro – que estivesse dentro de um recipiente lacrado com o selo do Cohen Gadol – para reacender a menorá do Bêt Hamicdash. Entretanto, encontraram somente uma pequena ânfora; as demais haviam sido profanadas pelos gregos quando estes entraram no Hechal (reduto sagrado). A quantidade de azeite desta ânfora seria suficiente para acender a menorá por apenas um dia, porém aconteceu um milagre e a pequena quantidade foi suficiente para oito dias. Isto, porque esta pequena quantidade era de grande qualidade espiritual – possuía o lacre selado do Cohen Gadol. Este é o principal ponto do milagre de Chanucá – descoberta da força qualitativa sobrenatural.
Estes dois valores encontram-se em cada ser humano: a qualidade e a quantidade, o côdesh e o chol, a luz e a escuridão, o sobrenatural e o natural.
Os valores quantitativos, materiais, revelam-se através dos desejos constantes e das coisas superficiais e distantes da kedushá. Os valores qualitativos manifestam-se baseados em um ponto central de kedushá e provêm de uma centelha de emuná (fé) herdada de nossos antepassados. Correto seria se as forças da qualidade (hacôdesh vehaemuná) prevalecessem e as outras forças servissem apenas como ferramentas para os elementos qualitativos.
Às vezes, porém, os vícios apagam a kedushá – o ímpeto e o desejo que cada pessoa tem para se aproximar da Torá e cumprir as mitsvot. Os “gregos” entram no “Hechal” do ser humano – sua alma – e impurificam todo o “azeite” – os pensamentos e os anseios corretos. Entretanto existirá sempre um pequeno recipiente oculto com o lacre da santidade. Aquele que se empenhar em sua busca, encontra-lo-á: “Badecu velô matseú ela pach echad shel shêmen” – revistaram e encontraram somente uma pequena ânfora de azeite.
Embora esta procura seja fraca a princípio e haja conteúdo suficiente para iluminar somente um dia, o milagre de Chanucá se repetirá e ela acenderá por oito dias.
Os dias de Chanucá, a cada ano, são propícios para encontrarmos o “azeite” em nossos corações e despertar a qualidade e a kedushá para que estas se estendam sobre todas as atitudes de nossa vida.
Durante todos os dias da festa, após o acendimento das chamas, temos uma excelente oportunidade para transmitir a nossos filhos a história e os conceitos de Chanucá. Com isso, estaremos acendendo também a chama do judaísmo.