A contagem do OmerHistórias dos sábiosLag Baomer

O Falecimento dos alunos de Rabi Akiva, e a época que procederá a vinda do Mashiach

Os dias entre  Pessach e Shavuot são conhecidos como os dias da contagem do Omer. Contamos estes 49 dias esperando o quinquagésimo dia, a festa de Shavuot, dia no qual comemoramos a outorga da Torá.
É interessante notar que a Torá em si não afirma explicitamente que Shavuot foi o dia da outorga da Torá. Em vez disso, a contagem (dos quarenta e nove dias), é atribuída à uma data com significado agrícola – a data na qual as primícias são trazidas ao Beit Hamikdash. Por outro lado, o entendimento de que este dia é realmente o dia da revelação no Monte Sinai é baseado em um simples cálculo matemático, de acordo com a ordem cronológica dos eventos.
A Torá une com sucesso uma realidade material com profundos ensinamentos espirituais. Segundo a perspectiva humana, a colheita pode ser o motivo da alegria. Portanto a Torá enfatiza que na colheita das primícias, deve ser feita uma cerimônia de santidade ao trazê-las ao Beit Hamikdash. Assim, a contagem do ômer nos dias do Beit Hamikdash, entre Pessach e Shavuot, une o materialismo e espiritualismo. Cada um deles por si só, é motivo de alegria e felicidade.
Porém na prática, estes dias são dias de luto nos quais não são realizados casamentos, e a alegria não é expressada externamente. 
O falecimento dos 24000 alunos de Rabi Akiva
Este período é um período de tristeza e luto, pelo falecimento dos alunos de Rabi Akiva.
Assim conta no Shulchan Aruch (Orach Chaim 493:1) “o costume é de não realizar casamentos entre Pessach e Shavuot, até a data de Lag Baomer, pois neta época faleceram os alunos de Rabi Akiva.
O Talmud (Yevamot 62b), menciona este trágico acontecimento: ” Disseram: 12000 pares de alunos tinha Rabi Akiva desde o lugar Gvat até o lugar Antiprass, e todos faleceram numa época só, pois não tinham respeito uns com os outros. Após este trágico acontecimento, o mundo estava monótono e sem alegria, até que Rabi Akiva ensinou a Torá a outros cinco alunos. Rabi Meir Baal Haness, Rabi Yehudá, Rabi Yossei, Rabi Shimon Bar Yochai, Rabi Elazar Ben Shamôa…”
O falecimento dos alunos de Rabi Akiva é uma parte de um assunto muito mais amplo, que é uma fonte de luz para decifrar a incógnita do falecimento de 24000 alunos do Rabino mais forte da geração. Somente para ilustração, devemos imaginar o espaço que ficou vazio cada vez que um dos grandes Rabinos da geração parte para o mundo vindouro, como por exemplo o Grão Rabino Ovadia Yossef Zts”l e o Grão Rabino Rabi Aharon Yehuda Leib Shteinman Zts”l. Então, como o mundo deve ter sido esvaziado de sua espiritualidade, no falecimento de 24000!!!!!!! Alunos que provavelmente seriam os transmissores da Torá após Rabi Akiva.

Rabi Akiva foi cruelmente assasinado por uma série de decretos fatais ordenados por Adriano. Sabemos também, Rabi Akiva foi um dos grandes defensores que deram respaldo ao Bar Cochva. 
Maimônides (Hilchot Melachim 11:3), descreve Rabi Akiva como quem concede respaldo a Bar Coziva. A fonte de Maimônides, é o Talmud Yerushalmi (Taanit 4:5): 
“Ensinou Rabi Shimon Bar Yochai em nome de Rabi Akiva: “Darach (procederá) cochav (estrela) de Yaacov (povo de Israel)- procedeu cozva (a intenção é em relação a Bar Cochva que seguidamente foi chamado de Bar Coziva)…”. Quando Rabi Akiva via Bar Cochva, dizia: “este é o Mashiach”. Disse-lhe Rabi Yochanan ben Torta: Rabi Akiva, crescerá grama em sua bochecha, e o Ben David (Mashiach que é descendente de David Hamelech) ainda não virá.
O versículo tratado, foi parte de uma das profecias de Bilam que teve intenção de amaldiçoar o povo de Israel e no fnal abençoou-os, como consta na Torá (Bamidbar 24:17):
“Verei-o e (mas) não agora, respaldarei-o e (mas) não em breve. Uma estrela procederá de Yaacov (povo de Israel)Jacó, e levantará uma tribo de Israel que esmagará os arredores de Moav e dominará todos os descendentes de Shet”.
A visão de Bilam lhe mostrou que uma “estrela-líder”  surgirá e conduzirá o Povo de Israel. Rabi Akiva declarou que esta “estrela” era Bar Cochva (filho, descendente da estrela). Após seu fracasso, foi chamado de Bar Coziva (falso), pois no Midrash (Eichá Rabá 2:4) consta em nome de Rabi, que em vez de escrever no versículo “Darach (procedeu) cochav (estrela) de Yaacov, deveria estar escrito, em vez de cochav, cozav (falsidade).
A dolorosa derrota de Bar Cochva concedeu-lhe um novo nome que eternizou o profundo fracasso para as gerações vindouras.
Rebelião de Bar Cochva
O segundo templo foi destruído. Jerusalém foi conquistada pelos romanos, e estes preservaram sua dignidade e eliminaram a grande revolta judaica. Talvez agora os judeus deem descanso aos romanos …
O nível de hostilidade e abuso dos judeus piorou em todo o Império Romano até se tornar insuportável.
Em resposta, os judeus se rebelaram várias vezes e cada vez milhares deles foram mortos. Na sequência destas muitas rebeliões, os romanos viram cada judeu, como um homem hostil a Roma
Adriano
Com a ascensão de Adriano ao poder em 117 DC, ele iniciou (pelo menos inicialmente) uma política de tolerância para os judeus e chegou a discutir a possibilidade de permitir que os judeus retornassem a construir novamente o Beit Hamikdash. 
Adriano decidiu fazer uma volta de 180 graus em direção aos judeus. Em vez de permitir o estabelecimento do Beit Hamikdash, ele fez um plano que transformaria Jerusalém em uma cidade-estado pagã, no estilo polis grego, com um templo para Júpiter sobre as ruínas do templo judaico.
Bar Cochva
O choque judaico pela resolução do imperador, levou a uma das poucas e grandes revoltas importantes no período romano. Shimon Bar Cosiba, conhecido por nós como “Bar-Cochba” liderou a revolta, que começou com força total em 132 DC.
Bar Cochva organizou um grande exército de guerrilha e efetivamente conseguiu remover os romanos de Jerusalém e Israel. Ao mesmo tempo, Bar Cochva conseguiu estabelecer, por um curto período, um estado judeu independente.
O sucesso do Bar Cochva fez com que muitos sábios da época – entre eles Rabi Akiva, acreditassem que ele era o Mashiach.
Quando o povo de Israel está unido, são uma força a ser reconhecida. Eles atacaram os romanos, os removeram da terra de Israel, proclamaram sua independência e até cunharam moedas. Foi um evento excepcional e único, mesmo na história do Império Romano.
Resposta romana
Roma não podia aceitar esta situação. Essa ousadia deve receber uma resposta esmagadora, e os responsáveis ​​por ela devem ser punidos com crueldade, para que sejam vistos e temidos.
Mas os judeus não se renderam facilmente. Adriano enviou mais e mais tropas para Israel para lutar contra as forças de Bar Cochva até que eles alistaram quase metade de sua nação – doze legiões completas na Terra de Israel.
À frente dessa grande força estava o excelente comandante romano, Júlio Severo. Mas mesmo com todo esse poder por trás dele, Júlio Severo teve medo de iniciar uma batalha aberta contra os judeus. Os romanos tinham medo dos judeus porque entendiam sua disposição de morrer por sua fé – uma mentalidade que eles viam como suicídio.
Por que os judeus perderam?
Ostensivamente, os judeus estavam muito perto de vencer a guerra e até ganharam-a por um tempo. Se sim, por que eles acabaram perdendo? Os sábios afirmam que a derrota veio porque eles eram muito orgulhosos. Depois de provar o sabor da vitória, eles adotaram a atitude de “minha força e poder me fizeram vencer “.
Bar Cochva também se tornou arrogante. Ele se viu triunfante. Ele ouviu as pessoas chamando-o de Mashiach. Não há dúvida de que, se Rabi Akiva pensava assim, ele realmente tinha o potencial para se tornar o líder de Israel. Mas por causa de todo esse orgulho, ele começou a perder nas batalhas.
Opinião oposta a Rabi Akiva
Enquanto Rabi Akiva definiu a rebelião de Bar-Cochva como o início da vinda do Mashiach, Rabi Yochanan ben Torta opinou contra a visão de Rabi Akiva.
Assim consta no Talmud Yerushalmi (Taanit 4,5): Disse Rabi Yochanan ben Torta: Akiva, grama crescerá de suas bochechas e ainda o descendente de David Hamelech (Mashiach) não virá.
Qual é o significado da grama que crescerá nas bochechas de Rabi Akiva? Se isso significa, que Rabi Akiva estará sepultado antes da vinda do Mashiach, deveria estar escrito o seguinte: “Akiva, grama crescerá de suas bochechas e depois virá o Mashiach”. Parece que Rabi Yochanan Ben Torta rejeita totalmente o tema dos dias da vinda do Mashiach. Esta interpretação não é certa, pois Segundo o que consta na Tossefta (Menachot 13), Rabi Yochanan ben Torta acreditava na vinda do Mashiach.
Se Rabi Yochanan ben Torta realmente acreditava que os dias do Mashiach estão prestes a vir, qual é o ponto em seu ataque sobre Rabi Akiva? Ao interpretar atentamente as palavras usadas por Rabi Yochanan, o assunto será compreendido.
Segundo a Tossefta (Menachot 13), opina Rabi Yochanan que o Mishkan que estava na cidade de Shiló, foi destruído por desrespeito aos sacrifícios oferecidos nele. O primeiro Beit Hamikdash foi destruído por idolatria, “falta de recato”, e derramamento de sangue. O segundo Beit Hamikdash foi destruído por ódio gratuito, mesmo que eram esforçados e dedicados ao estudo da Torá.
Vimos a princípio, que o falecimento dos discípulos de Rabi Akiva foi causado por falta de respeito mútuo. Portanto Rabi Yochanan, mesmo que realmente acreditava na vinda do Masshiach, determinou que a causa da destruição do segundo Beit Hamikdash deveria ser corrigida antes que iniciasse qualquer tipo de processo da vinda do Mashiach.
Segundo esta interpretação, qual é o entendimento  da grama crescendo nas bochechas de Rabi Akiva? Para entender isto, devemos estudar as palavras do Rambam sobre a vinda do Mashiach (Hilchot Melachim 11:3)
“E não imaginem que o Rei Mashiach deve fazer sinais e maravilhas e renovar coisas no mundo, ou ressuscitar os mortos e coisas parecidas com isto. Isto não é assim, uma vez que Rabi Akiva (que era um dos grandes sábios da mishná), deu respaldo ao rei Bar Coziva, dizendo que ele era o Mashiach, até que ele foi morto por causa de seus pecados. Uma vez que ele morreu, entenderam que não era o Mashiach. E a princípio (quando pensaram que ele era o Mashicah), os sábios não lhe pediram nenhum sinal ou maravilha…
O Rambam explica que a vida na era do Mashiach, não será diferente da de hoje em termos de milagres. Qual é a fonte de origem do Rambam? Rabi Akiva, na passagem em que lidamos com o Talmud Yerushalmi.
Se Rabi Akiva entendia o Mashiach não deveria fazer milagres, e Rabi Yochanan ben Torta discorda desta opinião, então podemos concluir que Rabi Yochanan ben Torta acreditava que o Mashiach deveria fazer milagres.
Agora podemos entender por que ele disse “…grama subirá em suas bochechas e ainda o descendente de David não virá”. Parece que ele diz: “Até onde eu sei, o Mashiach deve fazer milagres, mas mesmo se ele fizer milagres, eu não acredito que estes dias chegarão antes que o motivo da destruição do segundo Beit Hamikdash, seja consertado”.
A base da controvérsia
A base da controvérsia entre Rabi Akiva e Rabi Yochanan ben Torta pode ser encontrada no paralelo entre esses dois grandes homens. Ambos começaram o vida de acordo com a Torá vindo de fora dela, juntando-se mais tarde aos sábios da Torá. 
Rabi Akiva era adulto antes de começar a estudar a Torá, fato documentado em muitas fontes. Especialmente se encaixa na descrição oferecida em Avot de Rabi Natan (capítulo 6):
Qual foi o início de Rabi Akiva? Disseram, que ele tinha quarenta anos e não havia estudado nada. Uma vez ele estava junto a um poço esculpido. Disse: quem esculpiu esta pedra? Disseram a ele – a água que está caindo sobre ela todos os dias. Akiva, você não conhece o versículo (Yiov 14:6) “pedras que desgastaram-a água”?
Rabi Akiva respondeu imediatamente, dizendo: “uma coisa que é tão suave esculpiu uma coisa dura, como metal e ferro, a Torá que é dura quanto o ferro, não esculpirá meu coração que é feito de carne e sangue?!?” Imediatamente iniciou o processo de estudo da Torá.
Aqui nós testemunhamos o momento da iluminação que abriu a jornada de Rabi Akiva – do pastor ao lendário estudioso. O processo era natural, como uma gota de cada vez, pode esculpir uma pedra. “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”.
A história da transformação do Rabi Yochanan ben Torta é muito menos famosa. A fonte é o  midrash (Pssikta Rabati parashá 14):
Havia um Yehudi que tinha uma vaca. Por motivos econômicos, vendeu-a a um gentio. Durante os seuis dias da semana, a vaca trabalhou normalmente. No Shabat, ela saiu com a vaca para arar e esta deitou-se debaixo do jugo. Ele espancou-a e mesmo assim ela não se mexia. Vendo isso, foi reclamar ao vendedor: Venha e pegue de volta sua vaca. Talvez ela está com algum sofrimento, pois hoje ela não queria trabalhar mesmo que eu bati nela. O vendedor entendeu o motivo desta situação e disse ao comprador: “Venha e eu farei com que a vaca fique de pé”. Ao vir, ele disse no ouvido da vaca: “vaca, vaca, você sabe quando você estava na minha posse, você trabalhava comigo durante seis dias e no Shabat você descansava. Agora que eu vendi você a um gentio, você não deve deixar de trabalhar neste dia. Trabalhe segundo o costume de seu novo proprietário”. Imediatamente a vaca se levantou e iniciou o arado. 
O comprador ficou maravilhado com esta cena, e perguntou ao vendedor, que magia ou feitiçaria usou para que a vaca levantasse. Disse o vendedor: “Nenhuma bruxaria e feitiçaria fiz, mas lhe disse que como já não estava na propriedade de um Yehudi, já não estava obrigada a cessar o trabalho no Shabat”. 
Imediatamente o comprador disse:”…E se uma vaca que não tem conversa e opinião reconheceu o Criador, eu que fui criado na aparência do Criador e Ele me deu conhecimento e sabedoria, não procurarei conhecer a Ele?!?
Imediatamente resolveu se converter e se transformou em um dos grandes sábios do Talmud, Rabi Yochanan ben Torta.
No trecho incrível acima, vemos que Rav Yochanan ben Torta nasceu um gentio, e só depois de ver um milagre ficou tão admirado, que resolveu procurar seu Criador. Seu nome “ben torta” foi em nome do milagre que o trouxe ao judaísmo. Ben torta significa, filho do touro.
Rabi Akiva, que viu um processo natural que o trouxe ao judaísmo, transferiu sua experiência ao povo de Israel. Ele partiu de um princípio, que do mesmo modo que ele havia encontrado o Criador, todo o povo de Israel assim deve fazer ao se aproximar de D’us.
Por outro lado, Rav Yochanan ben Torta sentiu que, a fim de que o mundo inteiro iria reconhecer que D’us é o Criador e sustenta o mundo, nada, será eficaz mais do que exceto um milagre claro e visível.
Halachá 
O Rambam estabeleceu a halachá segundo a opinião de Rabi Akiva, que o processo da vinda do Mashiach será um um processo natural. Apesar de que a explicação de Rabi Yochanan ben Torta de que o Beit Hamikdash não será reconstruído enquanto o motivo que causou sua destruição não for consertado, foi estabelecida também.
Devemos começar a nos preparar para a vinda do Mashiach, para que possamos ser dignos disso
Rabi Akiva provavelmente estava ciente disso. Porém ele acreditava que, uma vez iniciado o processo, a ideia de redenção se espalharia como fogo, e de qualquer forma as pessoas atingiriam os níveis de ascensão de que eram capazes.
Se ele exerceu seu entendimento notável, apesar de sua idade avançada e pobreza extrema em que foi dada, não há dúvida de que o povo escolhido seria capaz de trazer os dias do Mashiach. Porém infelizmente, seus discípulos falharam, eles morreram e em vez de redenção, a destruição foi adicionada à destruição.
Os dias entre Pessach e Shavuot marcam a vinda do Mashiach que não ocorreu. Nós lamentamos o fracasso. Em Pessach, quando celebramos a redenção do Egito, também tentamos discernir como podemos torná-lo real hoje.
Enquanto que na verdade o Mashiach não veio na geração de Rabi Akiva, devemos saber que ele estava absolutamente certo em entender a capacidade dos seres humanos em trazê-lo. Muitos do povo de Israel seguem os passos de Rabi Yohanan ben Torta e aguardam milagres como precondição para a redenção. Essas pessoas aguardam passivamente pelo sinal Divino para proclamar a vinda da redenção.
E assim consta no Midrash (Bereshit Raba 24) que Rabi Akiva disse (Vaikrá 19:18) “Ame o teu próximo como a ti mesmo”, esta é uma grande regra na Torá. Devemos nos preparar para a vinda do Mashiach, para que sejamos merecedores dela, devemos corrigir a causa que levou à destruição do segundo Templo, a morte dos discípulos de Rabi Akiva. E assim, do mesmo modo que as gotas d’água esculpiram a pedra, assim também ao melhorar nossos atos, esculpiremos a redenção e a vinda do Mashiach em breve. Deste modo, os dias entre Pessach e Shavuot merecerão seu caráter original e se tornarão dias de alegria.

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