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O vendedor de alface

Certa vez um homem foi para um grande kabalista pedir um conselho. Ele era muito pobre, vendia alface na feira, e não conseguia pagar o aluguel. O dono da casa ameaçou ele dizendo que iria bater nele caso ele não pagasse em 24 horas.

Chegando ao escritório do kabalista, este não se encontrava. Seu discípulo estava lá e perguntou se podia ajudar – visto que a questão era urgente conforme a expressão facial do homem mostrava. “Será que ele vai me bater mesmo? Estou com medo.”

O discípulo, que tinha poder de vidência, fecha os olhos e tem uma visão – de sangue e dor. E aconselha o homem a fugir de lá, do perigo.

O homem escuta e agradece.

Quando ele estava prestes a sair, o grande mestre aparece. “Você por aqui? Como posso ajudar?”

E o homem conta a história novamente. “Mas seu aluno já me deu a resposta!”

O mestre pensa profundamente e diz “É melhor que você fique lá. Não fuja. Grandes bençãos estão por vir.”

O homem decide escutar o mestre e não seu discípulo.

No entanto, no dia seguinte o dono da casa aparece com um pedaço de pau e arrebenta o pobre homem, que cai no chão machucado. O homem fica confuso, “deveria ter escutado o discípulo…” Certa raiva também bate no coração dele, pelo mestre que assegurou grandes bençãos. “Não apenas terei que sair daqui, como também estou todo machucado. Onde está a benção? O discípulo sabia melhor. Quando puder, vou voltar lá pra avisar o mal que esse conselho me trouxe.”

E assim a família toda se mobiliza para sair.

No entanto, horas depois o dono da casa volta. Ele vem e implora para o pobre homem que fique. E diz “essa casa é sua. Presente meu para você!”

Sem entender, o pobre homem fica confuso.

“Hoje você não foi vender alface. Provavelmente por causa das feridas. E minha esposa comentou que você não apareceu. Eu disse para ela que eu havia te dado um surra. E te chamei de nomes negativos. E quando ela ouviu, ela me pediu divórcio… disse que você era um homem honesto que sempre a tratou bem e vendeu as melhores alfaces para ela. E que ela não quer estar ao lado de um homem agressivo e insensível como eu. Eu implorei para que ela me perdoasse. E ela me disse que a única chance é se eu conseguisse o seu perdão. Eu sou rico. Tenho dezenas de fazendas e casas. Por favor aceite meu presente e me perdoe. Meu arrependimento é sincero.”

Alguns dias depois o pobre homem encontra com o grande mestre e seu discípulo na feira. E conta a história para eles.

“Meu discípulo tem vidência. Mas ele enxerga apenas até um ponto. Sua sabedoria ainda é limitada. Com meus anos, o Criador me permite ver lá na frente. Eu vejo o final do capítulo. A dor era uma purificação para abrir você para grandes bençãos.”

Essa história vem do círculo de alunos do Rabbi Elimelech de Lizhensk, século 18. A lição é que … nós seres humanos cometemos o erro de pensar que aquilo que estamos vivendo hoje é o último capítulo do livro. Atribuímos conclusões e selamos o livro da vida. No entanto, é bom lembrar que nossa dor atual, erros, quedas, confusão, é justamente a purificação que precisamos para entrar no final feliz. Assim como todo rio abunda no oceano, o fluxo da vida é sempre da escuridão para Luz.

É o que diz o Zohar, repetidas vezes, e a maior verdade kabalística. Por isso, o maior poder que temos é a fé (ou “certeza”) e confiar… mesmo que não sei como ou quando, que a Luz irá se revelar.

Nunca saberemos a lógica de como as situações irão mudar. Mas podemos sentir no coração sem necessidade de racionalizar.

(Por Thais Soltanovitch Druker)

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