Sabemos que temos a obrigação de fazer hishtadlut (a nossa parte) para podermos prover as nossas necessidades neste mundo. Chazal aponta a origem desta obrigação com o passuk, וברכתיך בכל אשר תעשה – Hashem disse que Ele nos abençoará em tudo o que fizermos. Nós colocamos o nosso esforço e Hashem envia a Brachah. Sabemos que a bênção não depende do quanto esforço colocamos; contanto que cumpramos a nossa responsabilidade básica, Hashem enviará a bênção que Ele já decretou para nós.
Quando se trata de ganhar sustento, o Chovot HaLevavot escreve no Shaar HaBitachon, perek 4, que a nossa obrigação é apenas trabalhar o suficiente para pagar as nossas despesas básicas. Se alguém estiver designado a ter extras, seja um pouquinho a mais ou uma riqueza fenomenal, Hashem os providenciará sem qualquer esforço adicional.
Isso significa que, se alguém possuir um emprego relativamente tranquilo e que lhe proporciona o suficiente para viver, e então alguém lhe oferecer um emprego mais difícil que potencialmente poderia lhe render mais dinheiro, se esse dinheiro extra fosse destinado à pessoa, não seria necessário um novo emprego mais difícil para conseguí-lo. Hashem o fornecerá da maneira que Ele achar melhor, sem que a pessoa tenha que fazer nada a mais por isso.
O Chovot HaLevavot acrescenta que para obter os extras além do que a pessoa precisa, ela precisa ter bitachon em Hashem para isso. Ela deve saber que somente Hashem lhe fornecerá isso, e é preciso confiar Nele. O Chovot HaLevavot escreve ainda que se a pessoa não estiver destinada a ter extras, então mesmo que todos no Céu e na terra, todos os anjos e todos os seres humanos tentarem ajudá-la, não conseguiriam ser capazes de lhe dar esse extra. (Acrescento entre parênteses que mesmo que lhe entregassem dinheiro fisicamente, se não era para ser da pessoa, ela o perderia de alguma forma, talvez com alguma despesa inesperada).
Hashem não precisa da nossa ajuda para nos enviar dinheiro. Todo o dinheiro do mundo é Dele, e Ele tem infinitas maneiras de nos provê-lo.
Um homem me contou que é corretor de imóveis e estava enfrentando dificuldades com seu sustento. Há alguns meses, a escola de seu filho deu um dia de folga aos alunos em uma certa sexta-feira. Sua esposa lhe explicou que naquele dia estaria muito ocupada com os preparativos do Shabat e perguntou se ele poderia ausentar-se do trabalho e ficar em casa para cuidar do filho deles.
“Sem problemas”, ele aquiesceu à esposa; especialmente porque, de qualquer maneira, ele não andava ganhando muito com o seu trabalho. Naquela manhã, depois da sinagoga, ele passou na casa de um amigo e, enquanto esteve lá, ouviu ao fundo algumas pessoas conversando. Uma delas mencionou que durante a pandemia do COVID, comprara uma casa como investimento.
O homem me confidenciou que raramente ia à casa desse amigo, e durante aqueles dez segundos que aquele outro interlocutor mencionou que havia comprado uma casa durante a pandemia do COVID, houve uma pausa na conversa que ele estava tendo, e dessa forma, ele conseguiu escutar. Quando ele voltou para casa, levou o filho para passear de scooter e, na volta, entrou em casa e seu filho permaneceu fora, no jardim, bem em frente. Poucos minutos depois, ele notou uma senhora do lado de fora conversando com seu filho. Ele saiu para ver quem era. Ela disse que era uma corretora de imóveis e que queria ver sua casa, já que estava à venda.
O homem lhe esclareceu que atualmente estava alugando a casa e sabia que ela não estava à venda. A senhora disse que sabia que estava. Ela então lhe mostrou a lista em seu telefone pessoal. Quando ele viu a casa, lhe confirmou que não tratava-se da casa dele, mas sim de uma do quarteirão seguinte.
Ela lhe disse que tinha um cliente que realmente queria uma casa naquele bairro em particular, e ela estava se esforçando muito para encontrar uma para ele. O homem lembrou-se imediatamente daquele interlocutor dizendo que havia comprado uma casa como investimento durante o COVID e lhe telefonou para saber mais detalhes. No final, o cliente desta mulher comprou aquela casa e o interlocutor dividiu a comissão com ele por ter feito a intermediação. Ele recebeu cerca de US$ 40 mil.
Ele desabafou: “Durante meses, eu tentei chegar em acordos em meu trabalho, e não obtive sucesso; e no dia em que saí do trabalho, Hashem armou tudo para trazer um cliente até minha porta e me dar aquele dinheiro. Eu não fiz nada por isso. Ouvi por acaso uma conversa e dei a dica à mulher que “acidentalmente” veio à minha casa.
Hashem não precisa da nossa ajuda para nos mandar nosso sustento. Devemos sim nos esforçar porque essa é a Sua vontade, mas não devemos exagerar e devemos saber que tudo sempre vem Dele.
Rav David Ashear