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Shabat Kodesh – Visitando o “Palácio do Rei”  

Foi  o Shabat que demonstrou perante os outros povos o poder especial do povo judeu. Quando as religiões islâmica e católica admiravam  a peculiaridade do povo judeu na transição dos dias da semana para o dia do Shabat, quando o judeu se transformava e adquiria uma santidade muito maior, invejaram-no e quiseram alcançar também a santidade do Shabat. 

Tentando imitar a Torá, resolveram fixar para si próprios um dia de descanso semanal, parecido com o nosso Shabat,. Até mesmo decidiram fixar esse dia próximo da data de descanso de nosso povo. Os muçulmanos escolheram a sexta-feira e os católicos, o domingo. 

Porém, eles não levaram em conta que o Shabat não é um dia de descanso decidido pelos homens, mas sim fixado pelo Criador, que o santificou de um modo único.  

Esta santidade especial é que o distingue dos demais dias da semana em sua essência, e é com essa força que ele causa uma mudança essencial na vida do homem. 

 Por outro lado, um dia de descanso fixado por uma decisão humana não é diferenciado intrinsecamente dos demais dias da semana. Portanto, não é possível sentir nele qualquer mudança espiritual.  

“Obra” e “Trabalho”  – “Melachá” e “Avodá” 

Para que possamos entender claramente os fundamentos do Shabat, temos que examinar os versículos da Torá que tratam do assunto e aprofundarmo-nos em seus diferentes mandamentos. 

Os versículos que falam do Shabat constam nos Dez Mandamentos e se encontram em dois lugares na Torá: na porção semanal Yitrô (Shemot 20:9-10) e na porção semanal Vaetchanan (Devarim 5:13-14). Lá está escrito: “Seis dias trabalharás (taavod) e farás todo a tua obra (melachá) e o sétimo dia será por descanso para o Eterno teu D'us, não farás nenhuma obra… (melachá)” 

Ao nos aprofundarmos na linguagem do versículo, salta a seguinte questão: qual é o significado das palavras “trabalho” e “obra”? Quanto às proibições relacionadas ao Shabat, a Torá menciona apenas a palavra “obra”. Quando trata dos demais dias da semana, porém, lembra tanto o “trabalho” quanto a “obra”. Qual é a diferença? 

Aprendemos disto que a proibição de profanar o Shabat só se aplica a “obras”, não ao “trabalho” (mais adiante, contudo, serão apresentadas fontes adicionais das quais aprendemos a refrear também o “trabalho” no dia do Shabat, em determinada escala). 

 Ressurge, portanto, a pergunta qual é a diferença entre “obra” (melachá) e “trabalho” (avodá)? 

Para entendermos este tema é necessário fazer uma introdução, esclarecendo um pouco a diferença intrínseca entre a língua hebraica e os demais idiomas. Sabe-se que os idiomas existentes no mundo desenvolvem-se gradualmente em uma espécie de pacto; como se as pessoas fizessem um acordo para darem nomes específicos para os diversos objetos. Assim, é possível entender-se um com o outro. 

A origem da língua hebraica, porém, é outra. A língua hebraica tem origem Divina e foi dada a Adam, o primeiro homem, pelo próprio Criador. Assim, cada palavra desse idioma inclui em si a definição e o significado da ação ou do objeto que descreve. 

O Midrash explica como Adão, o primeiro homem, deu nomes aos diferentes animais no Paraíso. Nossos sábios ensinam como ele chamou cada animal que passava diante dele pelo nome que mais se apropriava às suas características essenciais. 

O cachorro (“kelev”, em hebraico) foi assim chamado pois sua característica básica é a fidelidade instintiva ao dono. Por conta dessa característica, foi-lhe dado o nome “kelev”, abreviação de “kulo lev” (todo coração). 

O leão (“aryê”, em hebraico), cuja característica essencial é a de transmitir temor, devido à sua prepotência, foi chamado pelo nome  mais compatível com essa característica: “aryê”, cujas letras formam a palavra “yir'á” (temor). 

O gato (“chatul” em hebraico), que tem como característica cobrir seus dejetos com terra, recebeu seu nome baseado na palavra “lechatel”, que significa cobrir e ocultar. 

Agora vamos tentar entender o sentido das palavras “obra” e “trabalho”: 

 O marceneiro e o alfaiate são chamados de “artesãos”. Por outro lado, uma pessoa que tem a função de limpar um pátio ou uma casa é chamada de 'operário' ou 'trabalhador'. Por que o primeiro é chamado de “artesão” e o segundo apenas de “trabalhador”? 

Em hebraico, a palavra “obra” (melachá) tem a mesma raiz da palavra 'anjo' (malach), e as letras principais das duas palavras são 'rei' (melech). O marceneiro, em seu trabalho, possui uma característica parecida com a de um rei, ou “chefe”: ele pega a matéria prima, decide o que fazer e a transforma no que deseja. Assim sendo, ele domina a matéria e a modela para transformá-la em um produto pronto, o que é equiparado a um  reinado.   

Uma vez que nem todos os homens possuem o dom de marceneiros, eles pagam ao marceneiro para obterem um trabalho profissional. Assim, a palavra “artesão” (baal melachá) vem da palavra 'anjo' (malach) – que em hebraico significa enviado. O conhecimento que possui em marcenaria faz com que seja também o “enviado” para dominar a natureza. 

“Obra” é, portanto, um ofício artesanal ou uma obra de arte, que demonstra o domínio do homem sobre a criação. 

Por outro lado, a raiz da palavra 'trabalho' (avodá), vem da palavra 'escravo' (eved): aquele que não possui outro sentido senão servir a seu dono. “Trabalho”, portanto, é apenas um 'serviço' que deve ser feito com o que já existe, sem demonstrar o domínio do homem sobre a natureza.  

Apesar de termos esclarecido o sentido das palavras “obra” e “trabalho”, permanece a segunda pergunta: por que a Torá proibiu justo a “obra” no dia do Shabat?  

Explicaremos este tema no próximo capítulo.  

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