A Mulher Judia

Tsiniut (modéstia), prisão ou liberdade!?!?!

Fiquei abismado à frente da janela do bloco 4 no campo de concentração de Auschwitz, do outro lado estava uma pilha cabelos eram nossos irmãos e irmãs vítimas do Holocausto. O guia veio até mim e sussurrou algo em meu ouvido, me levou para um canto tranquilo e me disse:

“Eles não fizeram teshuvá (se arrependeram do mau caminho) num dia só, e tão pouco o ritmo do processo não era comum. No início, não o incomodava, mas depois de seus filhos começaram a estudar em uma escola religiosa, ele pediu à ela que cobrisse sua cabeça. Ela se recusou.

“Você tem que entender que não é fácil para mim”, ela tentou explicar em uma das conversas: “Eu não posso mudar em um dia, não é que eu não quero, é difícil. Quando pedi para transferir nossos filhos para a educação religiosa, concordei, embora achasse difícil, porque sabia que era a coisa certa a fazer, mas cobrir a minha cabeça é outra história, simplesmente não posso, me entenda por favor “. Ele não entendeu.

“O que há para entender? Você mantém todas as mitzvot, é mais difícil cumprir Shabat, não? Justamente a mitsvá de cobrir a cabeça é difícil para você? ” Vocês homens nunca vão entender isso”, ela resmungou

Já que este marido não chegou ao ponto comum com sua esposa em relação a este assunto, ele entrou em contato com o Rabino Shlomo Zalman Auerbach Zts”l. Quando ele entrou em seu escritório recebeu-o o Rabino com sorriso paternal no rosto. “Como posso ajudá-lo”, perguntou ele limpou a garganta com emoção e respondeu. “É sobre minha esposa. Estamos casados há vinte anos, há oito anos, fizemos teshuva, e podemos dizer que cumprimos (quase 100% ) estritamente a halachá tanto nas mitsvót mais difíceis de serem cumpridas, quanto em relação as mais fáceis. Nosso problema é em relação a insistência de minha esposa em não cobrir a cabeça.

Tivemos muitas conversas entre nós e não que ela não se importa ou não entende a importância desta mitsvá, ela diz que simplesmente não é capaz disso, e acredita que D'us vai perdoá-la, afirmando que não exige que a pessoa mais do que a pessoa pode. Sinceramente eu não insistiria, porém nossas crianças frequentem uma escola ultra-ortodoxa e tem vergonha de convidar seus amigos para a nossa casa, elas não querem que seus amigos vejam a mãe de cabeça descoberta, por que ela insiste tanto? “

O Rabino pegou a mão do marido e com sua outra mão acariciou-o em seu ombro dizendo: ” Você sabe o quão difícil é para uma mulher cobrir a cabeça? Você é um homem, não uma mulher e, portanto, não entende. Meu filho sabe que a coisa mais difícil para uma mulher é cobrir a cabeça. Para as mulheres, os cabelos são parte inseparável de sua personalidade. Como você reagiria se eu te pedisse para corromper seu rosto? “

“Mas a Torá ordena que ela seja obrigada a cobrir a cabeça.” “Também estou ciente de que a Torá ordena que a mulher cubra a cabeça, mas para uma mulher que não está acostumada a isso desde a juventude, essa é uma tentativa muito grande. “Mas … rabino …” ele tentou de novo. “Saiba que não há nada mais difícil para uma mulher do que cobrir o cabelo”, repetiu o rabino. Assim, por alguns momentos, a peça retornou a si mesma, perguntando o que fazer e o rabino respondendo ao que precede. Quando ele percebeu que o rabino se recusou a dizer-lhe como se comportar, agradeceu e saiu.

Ele voltou para casa com um ressentimento em seu coração. Não é uma grande sabedoria convencer as pessoas a fazerem teshuvá, e depois não estar a seu lado em suas dúvidas, necessidades e problemas. Contudo, por ter confiança e fé nas orientações de chachamim, ele permaneceu em silêncio.

“O que o rabino disse a você?” A esposa perguntou quando ele se sentou em frente a ela no sofá. “Não importa”, ele respondeu secamente. “Talvez você tenha perguntado a ele sobre o assunto que estamos em divergência, não foi?” “Ele não disse exatamente … ele …” Ele tentou evitar. “E o que ele não acabou de dizer?” Ela perguntou novamente. -.

“Bem, então dessa forma … Ele disse que eu nunca vou entender você … cabelos para as mulheres são parte de sua personalidade … Para uma mulher não há nada mais difícil do que cobrir a cabeça … Ele disse que eu sou um homem e eu não consigo entender. Foi isso que ele me disse”.

Ela sentou-se à sua frente e sorriu. Alisou o cabelo dela e sorriu de novo. “Isso é o que o rabino disse para você, interessante, pelo menos ele me entende, ele é um grande rabino que você foi?” “Sim, o maior”, ele respondeu. Ele não conseguia entender por que ela estava sorrindo, ele achava que ela estava feliz por ter autorização para não cobrir sua cabeça, mas ele ficou em silêncio. Na manhã seguinte, quando voltou da tefilá, foi até a cozinha para fazer o café da manhã. Sua esposa estava sentada com um lenço bordado na cabeça – “Isso é bom e legal para mim?” Pergunta. – “Ele é um grande rabino e seu rabino, o maior.”

Uma nova situação daqueles que voltam em teshuvá

Não é fácil a vida dos que voltam em teshuvá. No início “desta nova carreira”, eles são forçados a lidar com mudanças de hábitos e novos mandamentos. Eles são obrigados a estudar as leis da kashrut e as leis do Shabat, a mitzvá da pureza e as leis das bênçãos. Como que estas pessoas terão as enormes forças e os poderes necessários, para fazer tais mudanças? A resposta é que pela alegria de cumprir as mitsvot, os obstáculos e as dificuldades, são minimizados. Entretanto, apesar de sua alegria em seu novo caminho, aqueles que retornam estão em constante tensão, por um lado o desejo de cumprir as mitsvot “ao pé da letra”, e por outro lado, o temor do fracasso. Eles temem,  que por falta de conhecimento, possam não cumprir as mitsvot de modo correto, chegando ao ponto de rigorar nas coisas mais lenientes e de serem mais lenientes nas coisas mais rigorosas.

Ele não pode comer nos lugares que estava acostumado em comer, sua teshuvá, exige projetar uma nova agenda e até mesmo prioridades em sua vida estão mudando para além do reconhecimento de que a essência de ontem se torna secundária hoje. Esta situação causa dificuldades sociais, o que lhe exige lidar com seu ambiente e proteger a honra e justiça do novo caminho em frente dos comentários daqueles ao seu redor, muitas vezes no local de trabalho e às vezes até mesmo ambiente familiar.

Se nós pensamos que a dificuldade de manter a preservância do Shabat é muito mais difícil do que usar kipá, nos ensinarão aqueles que passam e passaram o processo de teshuvá, que mesmo que o Shabat é muito mais severo do que a kipá, de qualquer modo a tentativa de colocar a kipá em público é de muito mais influência social do que preservar o Shabat. Pois há uma diferença trivial entre a mitsvá de cobrir a cabeça (para o homem com a kipá e para a mulher com lenço) e entre a preservância do Shabat, em três pontos:

1)      Cobrir a cabeça é uma mitsvá visível ao público.

2)      Cobrir a cabeça demonstra publicamente o desejo de ser membro do público religioso.

3)   Cobrir a cabeça é uma tremenda dificuldade para a mulher, pois está em contradição à natureza feminina.

Para que a pessoa tenha sucesso ao cumprir as mitsvot “visíveis”, são necessárias três condições:

1)      A disposição de lidar com seu ambiente social no início de seu caminho.

2)      Identificar-se completamente com a sociedade que sua nova aparência representa.

3)      Ter plena consciência de lidar com seus instintos.

Podemos concluir, que mesmo as mitsvot visíveis, não são feitas “de uma peça só”. Existem tais mitsvot que são difíceis, pelo menosprezo e ridicularização do “meio-ambiente”, e pela nova identificação com a nova sociedade, e principalmente a dificuldade pessoal expressada na mitsvá de cobrir a cabeça, que é contraditória aà natureza feminina.

Na verdade, é possível ver que há mulheres que fazem teshuvá e até se comportam modestamente e ainda não cobrem os cabelos, por quê? Porque a mitzva de cobrir a cabeça está no topo da escala da tsiniut (modéstia). Para entender isto em sua essência nós temos que estudar profundamente esta mitsvá para que possamos entender isso.

Educar para a modéstia?

“Quem disse que um vestido longo é modesto?” – “Por que calças não são mais modestas que uma saia?” – “Além disso, existem tipos de lenços e etc…, que são muito mais atraentes de que meu cabelo?!?”.

A tsiniut (modéstia),  revela o interior da pessoa e serve como mais de mil testemunhas, que esta pessoa preferiu uma vida com valores espirituais, mais do que uma vida com valores materiais. A alma humana, almeja sempre subir, destacando a singularidade tanto interna como aparência externa. Destacar a aparência externa, é conceito contrário à  tsiniut (modéstia). Enquanto que a pessoa dá importância (mais do que o necessário) à vida material, ele procurará enfatizar as vantagens materiais em seu dinheiro e corpo, de acordo com as quais o homem se orgulha apenas isso ele valoriza e estima. Uma pessoa que cuida de sua vida espiritual não atribui excessiva importância aos seus dados físicos materiais e externos, uma vez que eles não constituem o propósito de sua vida. É verdade que ele não os ignora, já que ele é um corpo de carne e sangue e osso, mas ele não é o primeiro em importância. Para esta pessoa, a modéstia se tornará algo natural em seu comportamento. A pessoa de natureza espiritual, se orgulha com os valores espirituais, e a pessoa de natureza material, se orgulha com os valores materiais.

É possível dizer, que a modéstia está enraizada em toda alma humana até tal ponto, que não há nenhuma criatura no mundo que em certo um grau, não possua esta bela virtude em alguma porcentagem. Porém, enquanto a pessoa se educar e acostumar a destacar o lado material, o lado espiritual ficará “escondido no cantinho”, sem dar quase ou nenhuma expressão prática. Para que possamos pôr na prática esta bela virtude e qualidade, para que sejamos modestos em nossos comportamentos, devemos nos educar para aumentar a importância da vida espiritual, o que nos elevará nos graus da modéstia. Mesmo a pessoa que enfatiza mais os meios materiais, tem em certa porcentagem de tsiniut (modéstia), porém seguí-la, será tão difícil ou até mais, de carrgar uma pedra de milhares de toneladas.

Entre uma sotá (desviada) e um nazir (monge)

Na parashat Nassó, aparecem dois casos próximos um do outro. O caso de uma mulher sotá (desviada) e o cso do nazir (monge). O caso da sotá (desviada), é o seguinte: uma mulher que foi advertida pelo marido de não se esconder ou de não estar num recinto fechado com outro homem. Caso após a advertência de seu marido, a mulher transgrediu tal ordem, eles não tem permissão de viverem vida conjugal, até que se dirijam ao Cohen no Beit Hamikdash. Esta situação é de tremenda vergonha, pois como o descrito na Torá, no decorrer da cerimônia espiritual de averiguação desse caso se houve algo a mais do que somente estar num recinto fechado com outro homem, a mulher é solicitada a tirar o lenço ou algo que cobre seus cabelos e também de beber certa água para que esta verifique se ela realmente não fez “nada”. E tudo isso perante ao público!!!!

A parashá que segue o caso da sotá (desviada), é o caso do nazir (monge). Nesta parashá, a Torá lida com uma pessoa que deseja se santificar, mesmo que seja permitida. Este nazir (monge) não está satisfeito com as limitações da Torá, e ele deseja se abster do vinho. No início de seu nazirismo, ele é obrigado a raspar os cabelos e a se comportar tão puro quanto um Cohen e, em alguns casos, mais ainda.

A justaposição desses parashiot levou os sábios a perguntar: “Por que foi o caso de um nazir foi escrito próximo ao caso da sotá?” E a resposta deles: “Todo aquele que viu a cerimônia da sotá, que se abstenha do vinho”. De acordo com o sentido literal das coisas nossos sábios ensinam que ao visualizar tal cerimônia da sotá, leva o homem à decisão de abster do vinho. Porém além desta explicação, há algo mais profundo que nos iluminará o caminho para a tsiniut (modéstia).

Chazal dizem o seguinte: todo aquele que vê a sotá em seu “comportamento estragado”, que se abstenha do vinho. Que “comportamento estragado” viu o nazir? Caso seja a cerimônia vista no Beit Hamikdash, isto é difícil de entender, pois como o nazir pensa em sua mente que ela “estragou” seu comportamento, antes de provar sua culpa, tendo possibilidade de que ela prove  sua inocência? Além disso, caso “ver” seja presenciar tal cerimônia, a chazal deveriam escrever “presenciar, olhar”. O fato que escreveram “ver”, significa uma visão mais profunda do que a superfície. Então, devemos “ver”, a explicação desta “visão”.

Nessas palavras, chazal nos ensinam o motivo pelo qual perdemos a sensibilidade pela tsiniut, e qual é o modo para consegui-la. O “estrago”da sotá, não se relaciona a seus atos, uma vez que estes ainda não foram provados. O “estrago” é o fato que seu cabelo foi descoberto. E a vergonha que passou por isso.então, por que o Cohen fez isso?

Qual foi a causa desta conduta? Será que já não basta o motivo que a trouxe à essa vergonhosa cerimônia, que há necessidade de envergonhá-la mais ainda?

Chazal nos ensinam na descoberta dos cabelos, que o motivo que a trouxe a este ponto, foi sua falta de tsiniut. E já que cobrir o cabelo da mulher é  o ponto auge da tsiniut, o cohen faz isso, para demonstra que é poribido olhar, mas é para ver e tirar conclusões práticas que o afastem totalmente de qualquer aproximação à falta de tsiniut. Portanto, a quele que viu  a sotá nesta situação, que se abstenha e se afaste do vinho, para que imediatamente maruqe em sua alma que a falta de tsiniut pode levar a pessoa a “destinos indesejáveis”

A visão do nazir, nos ensina que a perda da sensibilidade da tsiniut é oriunda da preferência dos prazeres corporais e materiais ao invés dos prazeres espirituais (ou seja, colocar o peso não adequado em cada um destes prazeres, sem menosprezar a necessidade essencial que a pessoa deve ter nos prazeres materiais na medida correta). O sacrifício trazido pela sotá, também demonstra isto, sendo oferecido de cevada, pois é um alimento animal, pois não há nada mais forte para demonstrar o materialismo do que o animal. Nesta visão, o nazir aprende que para adquirir a virtude da tsiniut, ele deve se abster dos prazeres materiais, e usufruir deles somente para suas necessidades de existência (sem prejudicar aos outros obviamente). Não há nada mais forte que represente este sentimento de afastamento dos prazeres materiais do que o vinho, que pode levar a pessoa a comportamentos indesejáveis. Além disso, o nazir deve também se abster de cortar o cabelo, do mesmo modo que o cabelo da sotá pode atrair para atos indesejáveis.  

O que realmente viu o nazir?

A descoberta do cabelo da sotá, e o corte de cabelo do nazir, estão paralelos uns aos outros. Essa mulher quis ultrapassar os limites da tsiniut, e este quer voltar aos limites da tsiniut.

Se quisermos adquirir a virtude da tsiniut, devemos segir a inspiração do nazir. Ele viu o desvio de caminho da sotá, e para que isto não lhe influencie, se absteve imediatamente do vinho. Pois para que este comportamento o leve ao auge da tsiniut, que o eleve a altos níveis espirituais e que não seja um “mártir”, ddeve o nazir presenciar e aprofundar sua visão na recompensa da sotá, caso ela não haja feito algo indesejável.

Chazal nos ensinam que caso a sotá mesmo desobedecendo a vontade de seu marido, não foi culpada em nenhum ato indesejável e não impurificou sua lealdade a seu marido, sua recompensa será imensa pela vergonha que passou nesta cerimônia (óbviamente que seria preferível não desobedecer o marido e tão pouco passar tal vergonha. Mas caso isto já tenha acontecido, sua recompensa é enorme). A recompensa é se caso esta mulher era  estéril, passa a ser uma mulher fértil, caso ela dê a luz com sofrimentos, passa a dar a luz sem sofrimentos, e etc…

Para que o nazir possa aguentar esta carga ao se abster do vinho e de prazeres materiais, deve visualizar a recompensa da sotá, para que ele saiba que mesmo passando por momento de sofrimento material, ele sabe que há recompensa no final do caminho. Esta informação lhe dará forças para aguentar o afastamento dos prazeres materiais.

O escrito antes serve para nos ensinar a verdadeira recompensa da tsiniut. Porém se em caso que a pessoa visualizou a recompensa da sotá que veio através de um ato não agradável. Muito maior será a recompensa daquelas que por livre e espontânea vontade resolvem cobrir seus cabelos, e se vestir com tsiniut. Mais ainda seguindo a afirmação do Rabino Shlomo Zalman Auerbach Zts”l que a coisa mais difícil para uma mulher é cobrir a cabeça e, para a mulher, os cabelos são uma parte inseparável de sua personalidade.” Deste modo, a recompensa por cobrir os cabelos será infinita. Pois a recompensa Divina é função das dificuldades que a pessoa passou para cumprir Sua vontade.

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