Entre as pessoas virtuosas que ganharam fama mundial na consciência do povo, se encontra Yitró, o sogro de Moshe Rabenu. Ele veio de longe, de crenças alheias e estrangeiras, e de lá seguiu para o judaísmo. De fato, Yitró recebeu o mérito do bom conselho que deu a seu genro, Moshe, conselho que recebeu respaldo de D'us. Yitró viu Moshe, seu genro, em pé sozinho, e toda a carga pública, sobre ele: ensinando as leis e os julgamentos, liderando o povo, orando pelo povo e sendo o juiz do supremo tribunal.
Ao perceber isso, Yitró sugeriu que de todo o povo fossem escolhidas as devidas pessoas para que possam conduzir um julgamento sem nenhuma inclinação a nenhum lado e sem nenhum interesse pessoal, como consta na Torá (Shemot 18:21). Yitró propôs a criação de um sistema judicial composto por ministros sobre milhares de pessoas, sobre centenas de pessoas, sobre dezenas de pessoas e etc…, que ficariam ao lado de Moshe.
Sua proposta foi posta em prática, e estes são os tribunais da lei judaica (batei din), que existem até hoje em dia. Porém, mesmo com a fama enorme que Yitró recebeu ao dar este conselho, houve uma certa e leve diferença, que ao ser posta na prática, abrangeu diversas e profundas camadas.
Yitró disse a Moshe (Shemot 18:22): “E todas as grandes coisas serão trazidas até você e todas as pequenas coisas serão julgadas por eles”. Quando a Torá se relaciona a nomeação dos juízes, a Torá mencionou o seguinte (Shemot 18:26): ” todas as coisas difíceis serão trazidas a Moshe e todas as coisas pequenas serão julgadas por eles (os juízes)”. Yitró diferenciou entre coisas grandes e pequenas, enquanto a Torá diferenciou entre coisas difíceis e pequenas. Mesmo quando Moshe, repete este assunto na parashat Devarim (Devarim 1:17), ele diz o seguinte: ” e as coisas que forem difíceis para vocês aproximem-as de mim e escutarei-as”.
As diferenças entre a abordagem de Yitró e de Moshe são muito fundamentais. O conceito de Yitró é que, se o conflito entre os litigantes é uma pequena soma, não há necessidade de incomodar Moshe com isso. Os ministros de dezenas ou outros juízes são suficientes para discutir essa questão. Moshe deveria somente julgar casos de altos valores e somas de dinheiro.
Mas a abordagem da Torá é completamente diferente. A soma de reclamação não diminui a importância da audiência. A mesma composição do Beit Din será convocada para julgar demandas de milhões, assim como para julgar a reclamação sobre um centavo.
De fato, Moshe explica essa intenção e diz (Devarim 1: 16-17): “e ordenei a seus juízes naquela época …aos casos pequenos como os grandes serão escutados”. Rashi explica, que seja atraente para você julgar sobre um centavo, do mesmo modo que será atraente para você julgar sobre centenas”.
No Talmud (Baba Metsia 24a) consta o seguinte: no albergue onde estava hospedado Mar Zutra, havia sido roubado um copo de prata. Percebeu Mar Zutra que um de seus discípulos ao lavar as mãos, enxugou-as na toalha de seu companheiro, sem ter recebido permissão. Disse Mar Zutra, este é o ladrão, pois suas ações indicam que ele não se importava com o seu uso dos objetos e pertences de seu companheiro, sem permissão. E, de fato, este discípulo confessou e admitiu que havia roubado o copo de prata.
Mar Zutra não disse que aquele que enxuga suas mãos na toalha de seu companheiro é ladrão. Ele simplesmente transmitiu que aquele que não se importa de usar mesmo um valor mínimo sem permissão, pode chegar ao ponto de usar valores maiores sem permissão. Baseando nestes valores, ele suspeitou de seu discípulo, fato que foi confirmado como verídico.
Isso é válido não somente em relação a julgamentos monetários, não devemos desprezar casos e passos pequenos, pois estes são as chaves para casos e passos grandes.
Aos olhos das pessoas, as grandes coisas são impressionantes, e as coisas que parecem ser pequenas não são igualmente impressionantes. Porém essa não é a opinião da Torá. A Torá não menospreza nada, mesmo que a princípio parece ser algo sem importância.
Rabi Akiva diz (Avot 3:15): “Tudo de acordo com a grande quantidade dos atos”. Os atos não influenciarão à mudança de virtude nas pessoas, segundo o tamanho dos atos, e sim segundo a quantidade e frequência de vários e inúmeros pequenos atos. Maimônides explica: as grandes virtudes serão adquiridas, não quando um homem realiza um grande ato, pois somente isto não lhe concederá uma virtude forte.
A conclusão prática que o Rambam extrai desse princípio é que se uma pessoa deve dividir mil shekels em caridade, e a questão diante dele é se deve doar essa quantia de uma só vez ou dividi-la em mil pequenaa doações, é preferível que opte pela segunda opção. Mesmo que ao doar uma soma de alto valor há uma expressão de excepcional generosidade, mas em termos do impacto na mente e na personalidade, os muitos atos que estão sendo constantemente feitos têm uma influência muito maior.
A pessoa que ignora os mínimos detalhes, é inadequado apoiar-se em sua habilidade de julgar e interpretar cada caso e caso, tanto em pequenos quanto em grandes casos. A verdadeira grandeza da verdade é construída pelos pequenos detalhes que constroem a personalidade de uma pessoa e seu modo de vida.
A personalidade não pode ser moldada nem em um dia só e nem em uma vez só, a personalidade é resultado do cuidado por um longo tempo de cada caso e caso. Cada passo, mesmo sendo o mínimo que seja, contribui com sua contribuição e deixa sua marca na personalidade. Muitas metas que não podem ser alcançadas em grandes etapas são alcançadas em etapas lentas e pequenas, mas medidas, equilibradas e consistentes.
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