Parashat Vayigash

Verdade na cara – Parashat Vayigash

O assunto central desta parashá, é a revelação de Yossef  a seus irmãos dizendo que ele é Yossef o vice-rei do Egito.

Yossef pergunta a seus irmãos: “Será que meu pai ainda está vivo?” Esta pergunta despertou grande surpresa entre os comentaristas, por que Yossef fez essa pergunta? Afinal, na longa discussão que teve com Yehudá no início de Parashat Vayigash, falou-se sobre o idoso pai dos irmãos, e as afirmações de Yehudá foram baseadas no fato de terem um pai idoso (em resposta à própria pergunta de Yossef, “Você tem um pai?”). Então, por que Yossef pergunta “meu pai ainda vive”?

Além disso, os sábios perceberam que Yossef usou a linguagem “será que meu pai está vivo? Ao invés de usar a linguagem “será que o pai de voces está vivo? E por que ele enfatiza e diz: “Eu sou Yossef, o irmão de vocês”?

Também é difícil de entender, porque depois que Yossef se revelou aos irmãos e então eles já não estavam aptos a contestá-lo, por que  já não perguntou mais nada sobre seu pai?

Em geral, qual é a mensagem que surge de toda a história do encontro entre Yossef e seus irmãos?

A venda de Yossef

Para explicar todo este assunto, é preciso primeiro esclarecer o assunto da venda de Yossef.

Em uma leitura superficial, sua venda é retratada como um ato insignificante que decorre do ciume que ele foi preferidamente escolhido aos olhos de seu pai ao receber um casaco listrado.

Nossos sábios intepretaram a venda de Yossef, por diversos motivos. Alguns interpretam que o motivo foi devido aos motivos da jurisprudência, e lhe impuseram a lei do “perseguidor” pois trazia a seu pai o conto dos maus atos cometidos pelos irmãos, que a punição era a pena de morte. Outros descrevem que os irmãos lhe categorizaram como um “falso profeta” por causa de seus sonhos. Há aqueles que o repreenderam por “rebelião contra o reino” porque, em seus sonhos, “fingiu” reinar sobre eles, e na verdade o “rei” dos irmãos era Yehudá.

Os irmãos acreditam na justiça de suas ações

Durante todos esses anos, os irmãos acreditavam em uma perfeita crença de que havia toda a justiça em todas as suas ações, e ninguém se arrependeu, nem o mínimo! E mesmo que na Prashat Miketz (Bereshit 42:21) esteja escrito: “E eles disseram uns aos outros, nós somos culpados por nosso irmão ao ver o sofrimento de sua alma ao implorar para nós e não o escutamos por isso nos veio este sofrimento”. Eles não se arrependeram pelo próprio fato da venda, e sim pela falta de misericórdia que não se encontrava no grau preciso adequado a Yossef, como deve receber segundo a lei! Afinal, os irmãos de Yossef eram pessoas nobres e supremas fazendo seus atos com precisa minuciosidade e por isso eles chegaram a conclusão que aconteceu tal sofrimento ao terem se complicado no Egito, com certeza foi por algo errado que fizeram. E o que foi? Foi a falta de misericórdia a Yossef, quando este  lhes suplicou “salvem-me do buraco!!!!”

Porém, sobre a venda de Yossef, nunca se arrependeram, uma vez que tinham plena certeza que estavam agindo integralmente como a lei.

“Será que meu pai está vivo”- mensagem educativa para os irmãos

Yossef reconheceu o amargo erro dos irmãos. Yossef também sabia que a correção para os irmãos começaria apenas depois que eles pudessem reconhecer que a “sentença” era oriunda de um motivo oculto que havia crescido além do limiar de reconhecimento. Yossef procurou revelar aos irmãos que toda a venda era devido a um motivo equivocado que vestia o manto de “justiça e lei”.

Portanto, Yossef queria transmitir uma mensagem educativa aos irmãos, dizendo: “será que MEU pai está vivo?!”

Apesar de que os irmãos já haviam dito que Yaacov estava vivo, Yossef queria despertar os irmãos sobre seu erro, então ele disse: “ será que MEU pai está vivo?!”, para dizer o pai não é deles, e sim dele, de Yossef. Os irmãos não tiveram o mínimo respeito e preocupação pelo sofrimento e tristeza de Yaacov por todos esses anos, por isso não é apropriado que os irmãos chamem-o de uma maneira que trate Yaacov como pai. Pois se realmente ele fosse pai, aonde estava o sentimento e a preocupação de deixar um pai sofrendo com uma enorme dor durante todos estes anos.

Nesta frase Yossef procurou refutar a base conceitual sobre a qual os irmãos confiaram todos os anos na justificativa de suas ações. Yossef, nesta frase, procurou esclarecer aos irmãos a pura verdade de que todo o ato de venda era devido a um erro baseado em uma tendência pessoal de inveja e ódio. Ele ordenou, portanto, que todos os egípcios saíssem perante ele para garantir que os irmãos fossem capazes de compreender a verdade sem querer salvar a honra aos olhos dos egípcios, e assim, aos olhos dos egípcios, para bloquear-lhes o absoluto percepção da verdade pura em todo o processo, o que significa que durante vinte e dois anos eles viveram totalmente no erro e distorção da verdade e da justiça!

E foi o que ele disse a eles: “será que MEU pai está vivo “? Ou seja, Yossef disse a eles que durante vinte e dois anos, vocês deveriam ter entendido que MEU pai estava com tristeza terrível, e talvez vocês sejam os culpados de toda essa tristeza, talvez a ação não justifique o motivo de retirar a presença divina dele? ! Então ele disse “será que MEU pai está vivo “? Ele não disse a eles: ” será que NOSSO pai está vivo?”, porque ele queria enfatizar para eles que, neste assunto, ele era seu pai e não pai dos irmãos.

Durante vinte e dois anos, Yaacov foi removido da Presença Divina por causa da tristeza que não se afastou por causa da venda de Yossef, e apesar de tudo, isto nunca incomodou aos irmãos e não os encorajou a pensar que houve um erro em suas ações!

Tudo isso aconteceu até encontro fatídico em que Yossef se apresentou aos seus irmãos, quando estes perceberam seu erro, e não apenas o erro “técnico” da venda, mas o erro aparente em seu julgamento, e mais ainda, que naquele momento relâmpago, eles perceberam que a situação era completamente diferente da situação que eles pensavam durante os últimos vinte e dois anos. E, por outro lado, eles entenderam o que Yossef – por outro lado – fez por eles em comparação com o que eles fizeram com ele, e é isso que foi enfatizado pela Torá que os irmãos ficaram mudos, pois ficaram assustados e surpreendidos por Yossef.

Yossef não voltou a perguntar sobre Yaacov, pois ele não procurava receber informações sobre seu pai, mas procurou transmitir uma mensagem penetrante que revelasse aos irmãos a verdade de que eles viviam em ilusão durante todos estes anos.

Como os irmãos não reconheceram Yosef?

Segundo o princípio acima mencionado, é preciso responder a questão famosa: como os irmãos de Yossef não reconheceram seu irmão quando estava sentado no trono do vice-rei do Egito? É verdade que Rashi disse: “E eles não o reconheceram”, desde que ele saiu, ele não tinha barba, embora ainda seja necessário entender que a Torá diz que ele é filho caçula, e em um dos comentaristas diz que Yossef tinha a imagem facial de Yaacov. Não só isso,eles também viram como Yossef conhecia todos os irmãos na ordem de sua idade, quem era o mais velho e quem era o mais jovem e viu como gostava de ver Binyamin . E eles deveriam entender que era só porque ele era seu irmão!

Estes fatos, provam o que foi ensinado anteriormente, que os irmãos de Yossef, não pensaram nenhuma vez durante todos estes vinte e dois anos, que estavam equivocados na venda de Yossef, e sim sempre justificaram seus atos.

Mais ainda: eles não queriam reconhecer que seus sonhos lhes diziam que todos estavam curvando-se para ele, se tornou em realidade. Portanto, mesmo que todos os sinais estavam claros e nítidos como o sol, que aquele que estava a frente deles era Yossef,  eles não reconheceram para que não se revele que todos os seus atos e justificativas no ato de venda foram em vão, e de fato tudo se deveu a uma única razão – a inveja que tiveram por Yossefser o filho mais preferido por Yaacov.

O significado do julgamento e da advertência para o futuro

De acordo com a compreensão das palavras de Yossef, podemos revelar uma camada mais profunda nas palavras do Midrash (Bereshit Rabá 93:10):

“Aba Cohen Bardela disse:” coitados de nós, por causa do dia do julgamento, coitados de nós por causa do dia da repreensão. Bilam é o sábio dos gentios – não suporta o opróbrio de seu burro… (Bamidbar 22:21-30), Yossef que era um dos mais jóvem das  tribos e mesmo assim seus irmãos maiores não aguentaram sua repreensão!!!! Quando D'us vier e provar cada um de acordo como que realmente ele é, mais ainda que não aguentaremos a repreensão!!!

Das palavras do Midrash, compreendemos que a pessoa estará de frente a duas situações: julgamento e repreensão. Que diferença há entre os dois?

Aprofundando nas palavras do Midrash que se baseia nas palavras de Yossef, poderemos entender a diferença entre os dois.

Julgamento significa, uma conta simples: será que a pessoa cometeu um pecado ou cumpriu uma mitsvá? Este status coloca a verdade absoluta perante o homem, e nesta posição ele distingue a cesta dos pecados e a cesta dos mandamentos e boas ações que ele fez.

Desta forma, uma terrível repreensão vem ao homem, pois a verdade dolorosa é revelada a ele, ao perceber que para certas coisas (boas segundo sua visão) se dedicou totalmente. No dia da repreenção ele achará que  anseia por esse falso bem, por causa de um motivo impróprio que imaginava estar dentro dele em disfarce. No mesmo conflito, a pessoa revela que uma grande porcentagem de suas ações decorreu da inclinação do yetzer hara que o empurrou com argumentos de “verdade”, “justiça”, “halachah” e “ética”.

O subornado pelos seus “justos atos” ignora a verdade

Muitas vezes, as pessoas trazem fontes e alicerces para justificar suas decisões, e com isso ele está cheio de segurança que o ato a ser feito é o ato certo, e nem tenta “mover um pouco de lado” de sua posição e tentar ver o assunto de um ângulo diferente sem interesses pessoais e examinar se existe um motivo contrário que não é compatível com a ação verdadeira que deveria ter sido feita. Podemos trazer para nós uma grande moral de que facilmente um motivo de sucesso consegue intervir em uma decisão tão fatídica, por ter usado o manto de halachá,verdade e justiça.

A tal ponto, uma pessoa é “tendenciosa” por suas ações, mesmo que as circunstâncias da realidade mostrem nitidamente seu erro, ele não relaciona entre seu erro e o que lhe mostra a realidade, como aconteceu em relação a venda dos irmãos de Yossef.

Quantos ensinamentos podemos absorver para nós, tudo o que foi citado e ensinado acima!!!!!!!

E como isso é verdade para nós em todos os momentos, pois se olharmos um pouco, veremos o quanto nós estamos subornados por todas as nossas ações e quantos “cálculos são tendenciosos e longe da verdade”. Fazemos todos os esforços para justificar todas nossas ações.

Será que nós também vivemos na ilusão?

A verdade é que toda pessoa que faz qualquer ato, justifica-o com todas as razões lógicas possíveis e com isso tem certeza que faz o ato correto. alguma coisa baseia sua ação na justiça da razão e tem certeza de que ele está fazendo o que é certo. Por exemplo, se  a pessoa está numa loja de doces, e que saber qual doce deve ser comprado, ele simplesmente pegará uma amostra do doce, pensando o que importa ao dono da loja se eu pego um pouco deste doce sem pagar? Ao final das contas, é um meio para saber se decidirei comprar este doce ou não? E assim, não só neste caso como também em vários outros, a pessoa assim age, sem levar em mínima conta que isto significa que a pessoa está comendo algo sem pagar!!!!!!

Coitado de nós no dia do julgamento, coitado de nós no dia da repreensão!!!!

Esta é situação difícil em que D'us em um “flash de luz” nos traz e nos dá toda a compreensão e prova de como nossas vidas estão erradas! Vivemos em uma ilusão!

Os irmãos ficaram assustados. Por que? Por causa da vergonha!!!

Um dos elementos da repreensão e do julgamento é o sentimento de vergonha que acompanha a pessoa quando lhe revelam a verdade sobre seu rumo de vida. Este elemento de vergonha é uma parte inseparável e obrigatória que a pessoa possa fazer teshuvá integral de seus atos, mesmo que a vergonha seja sentimento doloroso.

Fazer balanço dos atos

A mensagem que aprendemos de tudo o que foi citado acima, é que a pessoa deve fazer um profundo e verdadeiro balanço de seus atos. Porém isto não é o suficiente. A pessoa deve suplicar à D'us que seu coração esteja reto e não esteja torto, para que não vivamos em ilusão. Dos irmãos de Yossef aprendemos, que a pessoa pode durante a vida inteira pensar que age do modo mais correto possível, quando na verdade, se a pessoa peneirasse seus atos, perceberia que muitos deles são feitos com interesses pessoais, nem sempre baseados na verdade absoluta.

Que seja a vontade perante a D'us que cheguemos no dia do julgamento e da repreensão, depois de longos e aproveitados anos de vida, sem nenhuma vergonha e “surpresa”, e que D'us sempre nos direcione ao caminho certo.

E de quem tudo isso depende, somente de nós!!

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